Vinicius Torres Freire, na Folha de São Paulo O que sobra do governo da presidente além da sua meta de fazer o país crescer mais de 4% neste ano?
COM QUANTAS palavras se faz um governo?
Qual meia dúzia de palavras definiria o governo Dilma Rousseff até aqui?
PIB, câmbio, juros, PAC, gestão, ministros enrolados, broncas, trem-bala, aborto?
Quais dessas palavras representam um projeto da presidente?
Se riscarmos do caderninho o palavrório econômico, o que sobra?
A última pergunta é meio injusta, decerto.
Governar é dar ao menos a aparência de que o governo faz algo pela renda do cidadão.
Trata-se do senso comum político-eleitoral e de curto prazo.
Mas mesmo o mínimo denominador comum (MDC) dos governos do mundo moderno (exclui teocracias, ditaduras etc.) vai além do objetivo de “aumentar a renda” (crescimento econômico sem piora da distribuição).
Melhor dizer que o MDC dos governos mais prestantes envolve a ideia de bem-estar material e de provimento de oportunidades mais igualitárias.
Nessa versão ampliada, mas ainda realisticamente medíocre do “bom governo”, o que Dilma nos propõe?
O “Brasil sem Miséria”, o plano de auxiliar os miseráveis fora da rede do Bolsa Família, basicamente.
O plano de mandar uns milhares de jovens estudar no exterior e o de fazer mais escolas técnicas, ambos ainda quase no papel apenas.
Não sabemos o que Dilma (seu governo) pensa do que as crianças devem aprender na escola, provavelmente um dos três assuntos mais importantes do país.
Sim, educação básica é tarefa de Estados e municípios.
Mas, se a presidente está fora do debate ou da coordenação de um assunto tão essencial, o que mais ela está fazendo?
O trem-bala? “Gestão” (cobrar minudências cotidianas da construção da obra x ou y ou z)?
O que Dilma pensa da universidade?
Sim, as universidades são autônomas, as paulistas em particular, para não dizer quase soberanas, o que é um problema -universidades públicas têm de prestar contas.
Não sabemos se Dilma se importa com a sonolência esplêndida e burocrática do sistema universitário, se tem projeto para isso que é o centro das nossas ditas “sociedade do conhecimento”.
Quanto à política politiqueira, parlamentar, Dilma é só uma aprendiz esforçada das caminhadas nesse pantanal.
Se não se perder numa crise feia, já estará no lucro.
Além do mais, é uma presidente que viu mais de meia dúzia de ministros cair de podre e tanto apodrecer no pé.
No mais, Dilma não propõe reforma administrativa ou política do Estado.
Assiste de longe às querelas do Judiciário.
Nem se animou a tocar nem um dedo na imensa teia plena de moscas-mortas que é a administração pública.
Barroca, balofa, inadministrável, com milhares de fundações, superintendências, estatais, feudos de rapina, ONGs grudadas como cracas, a coisa pública federal foge do controle até do terceiro escalão, que dirá do presidente.
A máquina pública conspira tanto contra o governo quanto contra o cidadão e contra a economia privada.
O que Dilma propôs para faxinar e azeitar o SUS?
Espera que todos tenham planos de saúde privado (vários tão fracos e lotados como o SUS, ou então carésimos)?
Do tamanho e uso das Forças Armadas?
O espaço é curto para tantas mais perguntas.
Mas parece que a imaginação no poder também o é.