No Congresso em Foco Na próxima semana, o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, e a líder do partido na Câmara, Luciana Santos (PE), terão uma importante reunião com o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos.

A reunião tem um objetivo: entender quais são os planos de Eduardo Campos que envolvem uma aproximação com o PSD, o partido criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

Campos trabalha para que o PSD passe a integrar o bloco na Câmara do qual já fazem parte seu partido, o PCdoB e o PTB.

Hoje, esse bloco soma 63 deputados, e é a terceira maior bancada da Câmara.

Se forem somados os 47 deputados do PSD, passará a ser a maior bancada, com 110 deputados.

O PT, que hoje é a maior composição, tem 86 parlamentares.

Em princípio, o PCdoB resiste à entrada do PSD no bloco, e por isso quer conversar com Eduardo Campos.

O que temem os comunistas?

Não querem virar trampolim para pretensões políticas e eleitorais de Eduardo Campos que sejam diferentes das suas.

Os que conversaram recentemente com Eduardo Campos enxergam na aproximação com o PSD e na possível formação do bloco a seguinte via de mão dupla.

Depois da decisão do ministro Carlos Ayres Brito que negou o pedido do PSD de assumir postos de comando nas comissões permanentes, o partido de Kassab começou a entender que terá de buscar outras estratégias para ganhar protagonismo na Câmara.

E o caminho para isso pode ser a formação do bloco.

Fazendo parte da maior bancada, o partido passará a ter que ser ouvido e considerado em todas as votações e negociações importantes no Parlamento.

E, no caso de Eduardo Campos, a aproximação com o PSD é uma forma de, aliado do governo, manter também um pé na oposição, aproximando-se do ex-governador de São Paulo José Serra a partir de Kassab.

Na verdade, seria um jogo triplo de Eduardo Campos, uma vez que o PSB já mantém há tempos uma aproximação com Aécio Neves em Minas Gerais.

Parceiro histórico do PT e sem nenhuma afinidade ideológica com o PSD, o PCdoB quer reunir-se com Eduardo Campos para discutir a entrada do PSD no bloco porque, à primeira vista, não enxerga nenhuma vantagem para o partido nessa associação.

Eduardo estimulou criação do PSD Na verdade, a aproximação de Eduardo Campos com o PSD vem desde a criação do partido.

O governador de Pernambuco foi um dos conselheiros e estimuladores do movimento de Gilberto Kassab de abandono do DEM e da oposição mais ferrenha para fundar o PSD e assumir para o partido uma postura de equidistância, fazendo ao mesmo tempo pontes para se aproximar do governo Dilma sem, porém, destruir suas pontes originais com Serra e o PSDB.

Em alguns momentos depois da criação do PSD, chegaram a surgir informações de que o partido de Kassab se fundiria mais tarde com o partido de Eduardo Campos. “Há hoje no país um momento de renovação dos quadros políticos.

Antigas lideranças estão desgastadas; a Lei da Ficha Limpa poderá produzir ainda um expurgo bem mais radical nos atuais quadros políticos.

Lula enxergou isso quando criou Dilma Rousseff, e é com o mesmo raciocínio que ela agora lança Fernando Haddad [ex-ministro da Educação] na prefeitura de São Paulo.

O jogo de Eduardo Campos insere-se neste processo”, diz um interlocutor do governador de São Paulo.

Segundo este interlocutor, Campos hoje observa o jogo político procurando manter-se bem posicionado, para aparecer como alternativa no momento certo.

Os planos de Eduardo Campos vão desde hipóteses menos críveis até outras mais concretas.

No cenário mais improvável, diz o interlocutor, ele chegou a pensar na hipótese de Dilma cansar-se do jogo político, para o qual não tem mesmo muita paciência, e desistir de disputar a reeleição.

Mesmo que essa chance pouco provável viesse a acontecer, Eduardo Campos sabe que a principal alternativa nesse caso seria um retorno de Lula. “Ele não está disposto a peitar uma disputa nem com Dilma nem com Lula, isso é certo”.

Mas no jogo político os cenários e as condições muitas vezes mudam.

Na segunda hipótese, bem mais provável a partir das condições postas hoje, a relação do governo Dilma com o PMDB pode se desgastar.

Dilma não confia em seu vice-presidente Michel Temer, e não lhe delega tarefas à altura de seu cargo.

Temer já deu seguidas demonstrações de insatisfação nesse sentido.

A última delas quando soube pela televisão que o ministro da Pesca seria o senador do PRB Marcelo Crivella.

A presidenta também já teve seguidos problemas com o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e torce o nariz diante da hipótese de vê-lo como próximo presidente da Câmara.

Na última quinta-feira, Dilma chegou a se ver às voltas com um início de rebelião peemedebista.

Esse desgaste pode fazer com que a presidenta acabe revendo sua política de coalizão em 2014, abrindo espaço para o PSB na vice-presidência e trocando o apoio do PMDB pela adesão de partidos médios, entre eles talvez mesmo o PSD.

E há sempre a hipótese de uma virada total no atual cenário político.

Se hoje o candidato mais provável da oposição em 2014 é o senador Aécio Neves, com ele o PSB mantém aproximação há anos.

O PSB faz parte da base de Antonio Anastasia em Minas, e o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, do PSB, foi eleito com o apoio de Aécio.

Em São Paulo, Márcio França, do PSB, é secretário de Turismo do governador tucano Geraldo Alckmin.

Falta sedimentar a aproximação com Serra.

E ela pode se dar a partir da consolidação da aproximação com o PSD de Gilberto Kassab.

O único problema da múltipla estratégia de Eduardo Campos é que, em algum momento, ele terá de escolher um lado. É isso o que o PCdoB, na reunião que marcou, deseja saber: neste momento, de que lado o governador de Pernambuco estará?