Por Fernando Rodrigues, na Folha de São Paulo deste sábado Ontem, na posse do novo ministro da Pesca, Marcelo Crivella, estava na plateia a ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci.
Entrou muda e saiu calada.
Nessas ocasiões, em meio à discurseira, há aplausos e palavras de apoio.
Quando Crivella fez citações religiosas, foi possível ouvir alguém dizer “glória a Deus”.
Essas duas nomeações recentes, a de Crivella e a de Menicucci, mostram como há ainda uma assimetria no trato de determinados temas dentro do Estado brasileiro.
A ministra das Mulheres, como se sabe, é uma histórica defensora dos direitos iguais entre os sexos e da descriminalização do aborto.
No governo, Menicucci rendeu-se ao discurso anódino do Planalto.
Aborto?
Fica para o Congresso decidir.
E não se fala mais nisso.
Já Crivella, criacionista e descrente da teoria da evolução, pode derrubar quantas vezes quiser o muro que deveria separar igreja e Estado.
Como senador, em 2009 compartilhou uma dúvida com seus colegas -“O surgimento da vida a partir de uma ameba traz o primeiro questionamento: e a ameba, surgiu de onde?”.
O discurso sobre o ser unicelular está em bit.ly/crivella.
Ontem, repetiu não saber “colocar a minhoca no anzol”, apesar de ter virado ministro da Pesca.
Olhou para Dilma Rousseff.
Compungido, amparou-se na força divina: “Muitas vezes, Deus não chama os mais qualificados, não escolhe os mais qualificados.
Mas sempre Deus qualifica os escolhidos”.
Ou seja, tornar-se um bom ou mau ministro é também uma questão de fé.
Crivella é do PRB e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus.
Igreja e partido entram no governo com a missão de vocalizar os anseios de políticos evangélicos.
Em meio a metáforas e a discursos sobre minhocas e amebas, Dilma Rousseff oficializa, assim, mais um oximoro da administração petista, o excêntrico Estado laico-cristão.