Por Manuela Dantas, especial para o Blog de Jamildo Não me diga mais quem é você!

Amanhã tudo volta ao normal.

Deixa a festa acabar, Deixa o barco correr.

Deixa o dia raiar, que hoje eu sou Da maneira que você me quer.

O que você pedir eu lhe dou, Seja você quem for, Seja o que Deus quiser!

Seja você quem for, Seja o que Deus quiser! (trecho da música Noite dos Mascarados de Chico Buarque) Mas é carnaval…

O carnaval é a festa popular que mais gosto, não pela libertinagem mascarada e permitida, mas pela alegria no olhar de todas as pessoas e em todos os lugares, sejam ricos, pobres, mulheres, homens, crianças, heterossexuais, homossexuais, bissexuais, negros, brancos…

O carnaval é a festa da alegria e sou uma amante da alegria ou como diria Toquinho, sou escrava da alegria.

Na verdade, detesto estar triste, ser triste, ou ver alguém triste, penso que não estamos nessa vida para curtir tristezas, mágoas, ressentimentos, passar e repassar sofrimentos, já que temos algo maravilhoso que é a VIDA e ela pode nos proporcionar uma infinidade de momentos, experiências e convívios felizes. Às vezes, acho que o desenvolvimento da civilização trouxe e traz um legado de doenças relacionadas ao estado de espírito que vai matando ao pouco as pessoas.

Afinal, como entender a quantidade de pessoas com depressão, síndrome do pânico e outros males pouco relatados pelos meus avós e pais, ou relatado como males dos nossos antepassados.

Hoje, a maioria das pessoas que conheço são bem familiarizadas com calmantes, antidepressivos, ansiolíticos e afins.

Acho que uma boa opção seria o culto a alegria sincera, aliás, esse culto a tristeza baironiana já deveria ter caído de moda há muito tempo…

Mas é carnaval…

E responsavelmente quero abraçar o Rei Momo e cantarolar uns frevinhos por aí, devidamente fantasiada, é claro…

Já recebi até um convites, cheio de segundas intenções, de sair fantasiada de Luciana, a cadeirante de Viver a Vida interpretada por Aline Moraes, e uns amiguinhos saírem fantasiados do médico Miguel, interpretado pelo Mateus Solano…

Brincadeiras a parte, trago ótimas recordações do carnaval…

Foi no carnaval que conheci o Maracatu com seus caboclos de lança brilhando em suas fantasias que escondem os rostos dos nossos bravos cortadores de cana da Zona da Mata, conheci também o caboclinho, a ciranda, os papangus, os bonecos gigantes, os blocos líricos, o frevo!!!

Foi no carnaval que dei o meu primeiro beijo, o qual não foi roubado, foi batalhado pelo meu primeiro namorado…

Foi no carnaval também que descobri o amor, conheci, o único amor verdadeiro que tive nesses 33 anos de existência, nas ladeiras de Olinda…

No carnaval encontrei também um príncipe fantasiado de sapo e que, surpreendente, adorava ser sapo e insiste até hoje em se manter nessa fantasia…

Em Olinda já fui fada, bruxa, cupido, anjo, diabinha, rainha, princesa, Doroty do Mágico de Oz, mulher maravilha, mulher gato, pirata, Pocahontas, Lara Croft, já fui mocinha e bandido, já usei todas as mascaras, fantasias, ri, chorei, dancei, pulei, enfim fui feliz, muito feliz…

Esse é o primeiro ano que passarei o carnaval sendo cadeirante, considerando que no carnaval do ano passado ainda estava em tratamento intensivo em São Paulo e vi o carnaval bem de longe e com um baita aperto no coração…

Aliás, como racionalmente sei que não posso me jogar com a cara e a coragem no carnaval devido a minha atual condição, decidi procurar as opções acessíveis do Carnaval do Recife e Pernambuco e essa busca surpreendeu-me positivamente por ter visto no NE TV o atual prefeito apresentando a programação do carnaval e discursando sobre o investimento em acessibilidade desse evento, aonde serão disponibilizadas rampas de acesso, além de profissionais especializados para dar todo suporte aos que necessitarem.

A propósito, hoje ao abrir os sites e blogs de notícia li que a programação de carnaval do Recife poderá ser consultada pelos deficientes visuais, já que o material em braile estará disponível em todos os postos de informações turísticas da cidade e na central do carnaval.

Mais ainda, foi divulgado que os pólos de carnaval do Marco Zero, Arsenal, Casa Amarela, Várzea, Ibura, Brasília Teimosa, Nova Descoberta, Morro da Conceição e Chão de Estrela, haverá intérprete de libras, espaço na frente do palco para os deficientes, além de rampas.

Haverá ainda a Central da Pessoa com Deficiência, instalada na Agência de Trabalho e Renda da Prefeitura do Recife, na avenida Rio Branco, no Recife Antigo.

Salve o meu carnaval!

Nem as ladeiras de Olinda foram barreira para pela primeira vez, o Carnaval da Marins dos Caetés contar com um camarote especialmente preparado para pessoas com deficiência, salve o Camarote da Acessibilidade que vai funcionar durante os quatro dias de Carnaval na Praça do Carmo e contará com rampa, banheiro adaptado, intérprete de libras, sala de apoio para higiene e audiodescrição.

E na mistura colorida da massa, eis que surge Bezerros com seu tradicional carnaval dos Papangus, que conquistou até o meu eterno ídolo Chico Buarque, anunciando que a cidade ganhará este ano o camarote da acessibilidade.

E a magia do carnaval segue surpreendendo com a notícia de que especialistas pernambucanos discutem a acessibilidade no carnaval e pela primeira vez em Pernambuco, existirá uma ação conjunta de fiscalização e recomendação do cumprimento das normas de acessibilidade.

A ação tem por objetivo de conscientizar os produtores culturais e prefeituras da importância da execução das normas técnicas que garantem aos deficientes físicos condições de acessibilidade em espaços de festas carnavalescas.

O grupo de fiscalização inclui o Corpo de Bombeiros e integrantes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), além da Prefeitura do Recife e Governo de Pernambuco.

Ademais, li há 15 dias que a secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Laura Gomes, solicitou à Secretaria Estadual de Cultura, que colocou nos novos editais 2012 do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura – Funcultura, a implantação de um plano de acessibilidade nos eventos culturais e artísticos realizados em Pernambuco.

Essa ação possibilitará que pessoas com deficiência tenham acesso à cultura.

De certo que o Leão do Norte finalmente despertou para a acessibilidade e a inclusão de 24% de sua população, composta por deficientes, em um dos traços mais característicos de sua vocação federativa, que é a cultura, a arte, a alegria do carnaval.

No mais, repito novamente para a linda moça que me questionou na palestra que dei sábado no movimento de solidariedade MaisVida promovido pelo Grupo de Ação Social Novo Jeito, que organizou uma das maiores campanhas de doação de sangue em Recife com quase 200 doadores para promover a Vida no Carnaval, repito que sempre prefiro olhar a vida com otimismo e que, como diria Sabino, no final tudo dá certo, se não deu certo ainda é porque não chegou ao final.

Enfim, vou que o tempo urge para preparar as minhas novas fantasias para alimentar a alegria da vida real e de sonhos que despontam no horizonte com o sol radiante e o arco-íris colorindo o belo estado de Pernambuco, o nosso eterno Leão do Norte.

Findo o presente artigo com os olhos brilhando e a mente repetindo incansavelmente o hino de Pernambuco, em ritmo de frevo cantado brilhantemente por Alceu Valença, e com o coração esperançoso e confiante na força e no valor da nossa terra e da nossa gente.

Do futuro és a crença, a esperança, Desse povo que altivo descansa Como o atleta depois de lutar…

No passado o teu nome era um mito, Era o sol a brilhar no infinito Era a glória na terra a brilhar! “Salve! Ó terra dos altos coqueiros!

De belezas soberbo estendal!

Nova Roma de bravos guerreiros Pernambuco, imortal!

Imortal!” (trecho do Hino de Pernambuco de Oscar Brandão da Rocha e música de Nicolino Milano.