A Casa da Moeda II Por Gustavo Krause O que há de comum entre a história do dinheiro e a história da corrupção?

O que há de comum entre Manoel Severino dos Santos e Luis Felipe Denucci.

No primeiro caso, a história do dinheiro e suas progressivas formas e funções se confundem com o momento em que a humanidade superou o escambo por um objeto que simboliza o valor das mercadorias.

Suas formas foram evoluindo: a moeda-mercadoria (sal, gado, cacau), a moeda-metal (ouro, prata, cobre), a moeda-papel (recibos, vales, borós), o papel-moeda e a moeda digital que é o dinheiro eletrônico da economia virtual do século XXI; suas funções também evoluíram e a moeda é, hoje, meio de troca, unidade conta e reserva de valor.

Para chegar ao estágio atual, inúmeras e variadas contribuições foram dadas por diferentes civilizações e culturas distintas.

Merece registro a cunhagem de moedas na Lídia (três mil anos); a pragmática contribuição do poder centralizado dos chineses, utilizando a casca da amoreira para emissão de papel com valor de moeda; a participação de dois notáveis personagens que foram John Law, brilhante, polêmico e autor do primeiro experimento nacional para emissão do papel-moeda, graças à sua influência sobre o governo francês (1716); e o outro personagem, Benjamin Franklin, o pai do papel-moeda, benfeitor da humanidade com a invenção do pára-raio, dos óculos bifocais, do forno Franklin e imortalizado pela efígie das notas de cem dólares.

E assim nasce dinheiro.

Idéia simplificadora, invenção revolucionária; motor do mundo, fonte de gestos generosos, conquistas admiráveis e motivo dos mais hediondos crimes, entre eles, o crime da corrupção que, impune, destrói os alicerces da sociedade.

Quanto ao que há de comum entre os senhores Mané Biu e Luís Felipe Denucci: foram presidentes da Casa da Moeda; ambos por indicação política, sendo o primeiro por Benedita Silva (PT-RJ) e o segundo, eis o mistério, PTB, o Ministro da Fazenda Guido Mantega, ou filho de chocadeira?; ambos deixaram a Casa da Moeda sob graves indícios da prática do crime de corrupção (sobre o assunto escrevi no JC, edição de 14/7/05, artigo “O SUPERVALERIO E MANÉ BIU”); o primeiro, saiu do governo enrolado no assalto do mensalão, o segundo, demitido preventivamente (30 de janeiro), antes que viesse à tona matéria publicada na Folha, edição de 31 de janeiro, colocando ele e a filha Ana Gabriela como suspeitos de receber propina via duas empresas, constituídas em nome deles nas Ilhas Virgens Britânicas, devidamente confirmadas pela Junta Comercial de Miami.

Detalhes “sórdidos”: nos últimos três anos, as duas empresas receberam 25 milhões de dólares, oriundos do pagamento de comissão (2%) feito por dois fornecedores exclusivos da Casa da Moeda.

Distinto público, ou o Brasil acaba com a farsa da governabilidade ou farsa da governabilidade acaba com o Brasil.

Esta é a saúva do século XXI.

Nunca antes na história deste país, a Casa da Moeda foi moeda de troca dos arranjos políticos.

Instituição tricentenária, a Casa da Moeda monopoliza a produção de um dos símbolos nacionais como fazem suas similares no mundo inteiro.

Nos Estados Unidos, o Departamento de Estampagem e Impressão, parte da Secretaria do Tesouro, é atração turística e motivo de reverência.

Ao final do tour, os visitantes se deparam com a imagem do presidente Lincoln, em tamanho natural, assinando a legislação que autoriza a impressão do dinheiro pelo governo.

Por aqui, a Casa da Moeda faz parte do descarado loteamento fisiológico.

Descoberta a tramóia, o que se vê é um jogo de empurra.

Toma que o filho é teu, Guido; meu, não, é do PTB.

A raiz do mal que se reproduz na enxurrada demissões ministeriais, na completa paralisia da gestão governamental, na recorrente prática de ladroagem do dinheiro público, está na mentira nacional que atende pelo nome de governabilidade.

O título do artigo, Casa Moeda II, tem por inspiração a lógica Hollywoodiana que produz filmes, em série ou sob forma de franquia, com sucesso de público garantido.

Aguardemos, pois, a Casa da Moeda III.