Na área política, a principal prévia de Carnaval da semana que entra no Recife será mesmo o baile do Siri na Lata, na próxima sexta-feira, no Clube Português.
A crônica política não deu conta ainda, mas a escolha do homenageado, o pernambucano Nelson Rodrigues, é a maior provocação dos últimos tempos, mantendo a irreverência que marca a prévia.
Alguns vão reclamar do calor de derreter catedrais, uma de suas frases mais emblemáticas.
Outros só vão ter olhos para Sônia Braga, convidada de honra.
Mas o recado político não passará desapercebido.
Sempre hiperbólico, Nelson Rodrigues era um dos mais bem humorados polemistas do país.
Conquistou várias inimizades por se alinhar á ditadura dos anos 70, antes de virar essa unanimidade inteligente que goza hoje.
Foi um anticomunista ferrenho e apoiador declarado da ditadura militar, tendo sido amigo pessoal do general Emílio Medici.
O reacionário Nelson provocava arrepios na esquerda de então.
Ele era atacado pelo flanco esquerdo na política e pelo flanco direito na área de costumes.
Sua posição era bem clara.
Ele abominava a ditadura comunista da então União Soviética e de Cuba, ao mesmo tempo que apoiava a ditadura no Brasil.
Médici lhe garantira que não havia tortura no Brasil.
Só que a tortura abalou sua grande certeza política.
Após um período de militância no grupo revolucionário MR-8, seu filho, Nelsinho, caiu nas mãos da polícia.
Ao reencontra-lo, pela primeira vez, após a prisão, o pai quis saber se Nelsinho havia sido torturado. “Muito”, respondeu o rapaz.
Claro que ficou p da vida.
Como humanista, ele usava sua proximidade com os militares para libertar jovens de esquerda que caiam prisioneiros do regime.
Assim, descobrir a tortura, foi o ponto final de uma sua carreira de defesa do regime.
O dramaturgo percebeu ali que a ditadura brasileira havia se igualado à versão comunista, no que ele mais combatia, a falta de liberdade.
Bingo! É neste sentido que o estudioso de teatro Sabato Magaldi já escreveu. “Nelson foi reacionário na medida em que não aceitava a submissão do indivíduo a qualquer regime totalitário”, disse. “Quando a pessoa humana for revitalizada, também neste ponto ele será julgado revolucionário”.
Como prova de sua visão humanista, o especialista cita sempre as posições a respeito do racismo e do homossexualismo.
O esperado do reacionário é que ele reforçasse qualquer preconceito.
No seu tempo, era chique ser de esquerda e ser classificado de reacionário naquela época era um dos maiores insultos que um intelectual poderia receber.
Ocorre que Nelson Rodrigues era um homem convicto não das virtudes do capitalismo, mas dos defeitos, para ele insolúveis, do socialismo.
Bingo, de novo.
Aqui mesmo no blog uso Nelson Rodrigues contra os obtusos de plantão.
Na semana dos protestos contra o aumento das tarifas de ônibus, um internauta me provocava pelo twitter, acusando-se de ser um dinossauro e não ter a mesma coragem dos estudantes que estavam tomando pancada da PM na rua.
Devolvi com a resposta clássica de Nelson aos jovens rebeldes que, nos anos 60, o acusavam de ser mentalmente e ideologicamente senil. “Jovens, envelheçam!”.
Eu, pessoalmente, não preciso provar nada para ninguém.
No jornalismo local, dou minha cara a tapa faz 20 anos… a favor da liberdade, sempre.