Por Luciano Siqueira Quem lê o 18 de Brumário de Luis Bonaparte, que Karl Marx escreveu entre dezembro de 1851 e março de 1852 e veio a ser a primeira análise de conjuntura à luz do materialismo histórico – no caso, sobre a situação política que redundou no golpe de estado que elevou Napoleão III à condição de Imperador da França -, e examina a realidade política imediata, há de concordar que, de fato, nem sempre os homens realizam a luta política conforme seus desejos subjetivos , há uma realidade concreta a ter em conta.

Disso resulta, por exemplo, que no atual cenário pré-eleitoral há que se prestar atenção à consonância ou discrepância entre o desejo expresso de partidos e personalidades e o tamanho das pernas de cada um.

Ou seja: há a irrecusável mediação da correlação de forças real.

Alguns querem e podem; outros nem tanto.

Isto não quer dizer que a situação presente seja imutável, muito ao contrário.

A situação política é algo em movimento, não é uma foto, é um filme.

Um filme que está sendo composto sob a influência de muitos fatores, de ordem subjetiva e objetiva.

Por isso é preciso ver tendências, possibilidades, perspectivas.

Pesquisas de intenção de voto agora, por exemplo, são obviamente um dado singificativo, mas não dizem tudo.

Em 2000, no Recife, o candidato que viria a vencer o pleito, João Paulo, iniciou com 4% de intenção de votos, enquanto o então prefeito Roberto Magalhães ultrapassava os 50%.

Havia, entetanto, um ambiente propício à mudança, um sentimento nesse sentido que se alimentava que nem fogo de monturo na população que, mediante o transcorrer da batalha, pôde se expressar e deu no que deu.

No segundo turno, por cerca de 8 mil votos de um eleitorado do mais de 700 mil, João Paulo se tornou prefeito.

Daí se depreende que a análise de cenários há que ser abrangente, feita com os pés na terra.

A medida das possibilidades de determinadas pretensões, no caso de cidades grandes e médias, implica necessariamente na capacidade de unir forças, mesmo parcialmente.

Dificillmente um partido vence sozinho, mesmo os que amealham tempo expressivo na TV.

Porque eleição majoritária é um movimento que envolve partidos e segmentos da sociedade - pela manutenção e continuidade do projeto em curso ou pela mudança.

Considerada a correlação de forças real – cotejando os que estão do nosso lado, os que estão do lado oposto, os que podem se deslocar para um ou outro lado e tendências do eleitoado -, cabe adotar a tática a mais ousada que seja combinada com a flexibilidade necessária a arregimentar apoios.

Por enquanto, que cada um ponha a cebeça de fora, diga o que pretende, dialogue, construa, explicite opiniões e propostas.

Após o carnaval, a variável tempo exigirá que os partidos sentem-se à mesa em busca de entendimento.

Aí valerá a força de cada um na disputa pela hegemonia ou, pelo menos, de uma posição saliente na coligação.

PS: Luciano Siqueira é deputado estadual pelo PCdoB e ex-vice-prefeito do Recife