Por Manuela Modesto Acabei de ler na veja de 11 de janeiro de 2012 que o modelo Fernando Fernandes, que ficou paraplégico em 2009 em um acidente de automóvel, se tornou bicampeão mundial de paracanoagem.

Na foto estampada na revista, ele continuava lindo em sua cadeira de rodas ostentando um sorriso de campeão e aparentemente orgulhoso com sua medalha em punhos.

Apesar de eu não ser atleta e nem ter me tornado uma, a despeito das apropriadas recomendações e insistência diária do meu chefe, fiquei verdadeiramente feliz com a imagem de conquista e superação daquele belo jovem que fez do esporte mais do que um exercício de reabilitação, mas a sua grande motivação de vida.

Observando aquela imagem, imediatamente a minha mente me transportou para as minhas primeiras sessões de fisioterapia, ainda no hospital, após as cirurgias a que fui submetida, lembro que a dinâmica que mais me motivava era um jogo com uma bola leve empreendido entre mim e a minha fisioterapeuta, que por alguns minutos me fazia esquecer a dura realidade daquele momento… É fato que a prática de esportes para deficientes além de promover a reabilitação com maior entusiasmo, acabam por se tornar um grande estímulo para que deficientes prossigam com suas vidas da forma mais normal possível, como também aumentam o convívio social e reforçam sobremaneira a auto-estima dos novos atletas.

Mas devo dizer que a prática de atividades física e esportiva por deficientes físicos, auditivos, visuais e mentais pode proporcionar além dos benefícios da prática regular da atividade física, a oportunidade de testar seus limites e potencialidades, prevenir as enfermidades secundárias à sua deficiência e promover a integração social dos deficientes.

Aliás, as atividades físicas, esportivas ou de lazer propostas aos deficientes físicos como os portadores de seqüelas de poliomielite, lesados medulares, lesados cerebrais, amputados, dentre outros, possui valores terapêuticos e evidenciados benefícios tanto na esfera física quanto psíquica, como os listados abaixo: Físicos: Agilidade, equilíbrio, força muscular, coordenação motora, resistência física, melhora das condições organo-funcional (aparelhos circulatório, respiratório, digestório, reprodutor e excretor), velocidade, ritmo, possibilidade de acesso à prática do esporte como lazer, reabilitação e competição, prevenção de deficiências secundárias, promoção e encorajamento do movimento, desenvolvimento de habilidades motoras e funcionais para melhor realização das atividades de vida diária, entre outros.

Psíquicos: Melhora da auto-estima, aumenta a integração social, redução da agressividade, estímulo à independência e autonomia, experiência com as possibilidades, potencialidades e limitações, vivência de situações de sucesso e de frustração, motivação para atividades futuras, desenvolvimento da capacidade de resolução de problemas Isto posto, é impressionante e inspirador ler a história dos brasileiros paratletas e perceber a sua força ao se dedicarem a essas atividades com tal determinação que não surpreende o Brasil ter sido o primeiro lugar no Parapan de 2011 em Guadalajara com 197 medalhas conquistadas pelos nossos paratletas.

Trocando em miúdos, eles são o nosso verdadeiro orgulho nacional!

Transformam as limitações, dificuldades, sofrimento em superação, esperança e fé.

Infelizmente, os sucessos desses nossos atletas é divulgado pela mídia pobremente e pouco estimulado e patrocinado pela iniciativa pública e privada.

Outrossim, o Brasil tem obtido destaque nas últimas edições dos Jogos Paralímpicos.

O nosso país estreou nessa disputa em 1976 e conquistou sua primeira medalha na edição seguinte.

Em 2008, pela primeira vez encerrou uma edição entre os dez primeiros no quadro de medalhas, ficando em nono lugar com 47 medalhas.

Os nadadores Clodoaldo Silva e Daniel Dias e os corredores Lucas Prado, Ádria Santos e Terezinha Guilhermina são alguns dos destaques paraesportivos do país.

Os Jogos Paralímpicos supracitados são o maior evento esportivo mundial envolvendo pessoas com deficiência.

Incluem atletas com deficiências físicas (de mobilidade, amputações, cegueira ou paralisia cerebral) e, até 2000, atletas que sofriam de deficiência mental.

Realizados pela primeira vez em 1960 em Roma, Itália, têm sua origem em Stoke Mandeville, na Inglaterra, onde ocorreram as primeiras competições esportivas para deficientes físicos, como forma de reabilitar militares atingidos na Segunda Guerra Mundial.

Lembrei, então, de uma antiga conversa que tive com um rapaz membro da Associação dos Deficientes Físicos de Pernambuco, o qual participa da seleção pernambucana de basquete e representa Pernambuco no Brasil em torneios de basquete para cadeirantes.

Aliás, esse paratleta pernambucano é super motivado para o esporte e me relatou que é o que mais gosta de fazer desde que se tornou cadeirante.

Ele tem treinos diários e se dedica intensamente, apesar de não haver nenhum estímulo financeiro nem de órgãos públicos, nem privados.

Atualmente, a equipe de paratletas cadeirantes luta para se manter no esporte, mesmo não tendo patrocínio e usando do pequeno recurso próprio advindo de uma mísera aposentadoria para suprir suas demandas por materiais esportivos, uniformes, viagens, material para a cadeira de rodas e reposição de pneus que se desgastam demasiadamente nos treinos.

Desculpem-me o desabafo, mas é lamentável ter conhecimento de que esses verdadeiros heróis nacionais que representam tão bem o nosso país tenham tão pouco incentivo financeiro público e privado!

Não tenho a pretensão romântica, remontando a minha adolescência, de ser a mulher maravilha e salvar o mundo das injustiças diárias presenciadas, mas ousei me comprometer com o meu novo amigo em ajudá-los nessa luta e por isso dedico aos paratletas pernambucanos e brasileiros esse artigo e o Projeto MOVIMENTO.

Como também proponho que os nossos representantes do legislativo e executivo lancem seu olhar para esses cidadãos e proponham medidas de incentivo às práticas esportivas para deficientes, como também peço o apoio da iniciativa privada para promoverem projetos e patrocinarem esses grandes atletas.

Portanto amigos, uni-vos a essa causa cidadã e engajem-se no Projeto MOVIMENTO, comprometam-se de todos os modos possíveis e sonhados e ajudem a esses cidadãos deficientes a redescobrirem a vida de uma maneira mais ampla e perceberem que é possível ter uma vida digna, apesar das limitações e das dificuldades impostas Aproveitem à inspiração do mês de janeiro para ungirem uma transformação em vossas vidas com a adoção de uma causa justa.

Já que, o termo janeiro advindo do latim Januarius significa mês consagrado ao Deus Jano, uma entidade que na mitologia romana era responsável pelos começos, pelas passagens e pelos portais e que tinha o poder de olhar para o passado e para o futuro, para dentro e para fora e por isso tem um grande mérito de iniciar as esperanças, transformações e boas perspectivas de um novo ano que surge nos umbrais da civilização.

Assim amigos abraçar uma atividade física pode transformar o dia-a-dia de um atleta deficiente, mas abraçar uma causa justa pode transformar a vida de todos!

Enfim, despeço-me essa semana com a convicção de ter obtido parceiros para essa causa e com uma sábia frase de Confúcio. “A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda.” (Confúcio)