Por Marta Salomon, em O Estado de S.Paulo O ex-deputado federal Osvaldo Coelho (DEM), tio do ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra Coelho, foi nomeado há quatro meses, pelo sobrinho, membro do comitê técnico-consultivo para o desenvolvimento da agricultura irrigada, criado dias antes por portaria do ministério.

Trata-se do segundo integrante da família Coelho a ter cargo indicado pelo ministro e subordinado a ele, contabilizada a permanência do irmão Clementino na presidência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf).

Osvaldo Coelho se diz perito em irrigação, tema que atrai muito a atenção do sobrinho-ministro.

Procurado pelo Estado, o tio queixou-se de trabalhar pouco.

Desde a criação, o comitê só se reuniu uma vez, para a sua instalação, em 20 de setembro. “Estou fazendo de conta de que sou conselheiro, mas não estou dando conselho nenhum.

Não sei se o conselho é que está estático ou se é o ministro”, queixa-se.

A legislação - expressa em decreto presidencial e em códigos de conduta - impede a nomeação de familiares por autoridades.

O Ministério da Integração nega que seja caso de nepotismo.

Em nota, alegou que o comitê não tem “personalidade jurídica”. “Trata-se de um órgão colegiado, paritário, consultivo e opinativo.

A função de conselheiro não é cargo em comissão ou função de confiança”, diz a nota.

O Ministério da Integração Nacional alega ainda que os integrantes do comitê da agricultura irrigada apenas opinam sobre a política nacional de irrigação, sem direito a remuneração. “Quando necessário, podem ser solicitadas apenas passagens e diárias”, afirma a Integração.

A Controladoria-Geral da União (CGU) endossa o entendimento do ministério, baseada no decreto editado em junho de 2010. ‘Princípio da moralidade’.

O código de conduta da Comissão de Ética Pública, subordinado à Presidência da República afirma, porém, que “nomear, indicar ou influenciar, direta ou indiretamente, a contratação, por autoridade competente, de parente consanguíneo ou por afinidade para o exercício de cargo, emprego ou função pública” ofende o princípio da moralidade administrativa e compromete a gestão ética.

A nomeação do tio do ministro da Integração Nacional deve ser analisado pela Comissão de Ética Pública, que volta a se reunir em fevereiro. Água e vinho.

Osvaldo Coelho nega que seja nepotismo. “Eu e o ministro somos água e vinho, não temos nada para estarmos juntos.

Apenas como eu tinha essa bandeira da irrigação, decidi aceitar o convite”, explica o ex-deputado.

Divergências políticas à parte, o sobrinho-ministro Fernando Bezerra Coelho está seguindo à risca as recomendações feitas pelo tio.

As prioridades apontadas por Osvaldo Coelho são respaldadas pelo Programa Mais Irrigação, em estudo pelo ministério e que deverá ser lançado em breve pela presidente Dilma Rousseff.

A Codevasf, hoje presidida pelo irmão do ministro, Clementino Coelho, vai ser a principal gestora do programa.

O perímetro batizado de Nilo Coelho, nome do ex-senador e outro tio do ministro, em Pernambuco, será um dos primeiros a ter edital publicado para parceria público-privada, ainda no primeiro semestre do ano.

Mais de 30% dos projetos de irrigação são considerados ociosos.

O Programa Mais Irrigação prevê a operação de 775 quilômetros quadrados de perímetros de irrigação até 2014, ano da próxima eleição presidencial. “É uma coisa muito bacana”, disse recentemente o ministro.

PS do Blog: Quem acompanha a política local sabe que, apesar de Osvaldo Coelho e Fernando Bezerra Coelho serem parentes, os dois são rivais.

Osvaldo inclusive, não faz cerimônia para criticar o governo.