Veja opinião do Blog de Jamildo Quem sou eu pare criticar a Veja, mas a reportagem publicada neste final de semana merece reparos óbvios.
Sou assinante da revista e aprecio o trabalho na denúncia de irregularidades nacionais, como o Mensalão.
No caso FBC, entretanto, a publicação cometeu um pecado (errar o alvo, no sentido clássico da palavra).
A revista reclama, logo no começo do texto, que entra ano e sai ano as tragédias se repetem e os governantes não se antecipam para remover quem mora nas áreas de risco ou fazer obras necessárias para evitar os desastres quando a chuva chega. “É como se eles esquecessem, propositadamente, do que aconteceu no verão anterior”, escrevem.
Ora, o que se viu em Pernambuco foi justamente o contrário.
O governador Eduardo Campos mobilizou a sua equipe, formou um gabinete de crise, pediu recursos federais. É verdade que a construção das casas atrasou, mas vem saindo, como o hopsital novo na cidade de Palmares, por exemplo.
Como disse na semana passada, Pernambuco não pode ser criticado por ter feito o dever de casa.
Não é correto que o justo pague pelo pecador.
No caso, a Veja ou ignorou ou omitiu a resposta que foi dada ao drama das enchentes, no caso de Pernambuco.
O mérito de tudo deve-se ao trabalho da Compesa e da Secretaria de Recursos Hídricos, que foi eficiente ao elaborar o projeto de construção de cinco barragens na bacia do Rio Una, que beneficia, além de Pernambuco, o Estado de Alagoas.
Em um segundo trecho, a revista afirma, com base em um levantamento do site Contas Abertas, que 90% das verbas pagas no orçamento do ano passado como parte do programa federal de prevenção de desastres naturais tiveram como destino o Estado de Pernambuco.
Mais uma falácia, pois os recursos liberados para Pernambuco correspondem a menos de 10% dos R$ 366 milhões disponíveis para prevenção de enchentes no orçamento do Ministério para 2011.
Desde a semana passada, apontamos aqui que os dados eram parciais e não poderiam ser lidos como definitivos, salvo se trate de campanha em curso para detonar o presidenciável Eduardo Campos, usando FBC como mote, como bode expiatório.
Se culpa houve, foi dos governadores que não aplicaram suas verbas, caso do Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Há um montante quatro vezes maior que os R$ 25 milhões destinados ao Estado que deixou de ser usado por falta de projetos.
O curioso é que a própria reportagem aborda a omissão, mas não trata Sérgio Cabral pelo nome da omissão.
Depois de fazer loas a uma vitória de BH no combate ás enchentes, a revista diz que o governo do Rio de Janeiro ainda não conseguiu fazer nada e, após um ano, não houve sequer um ressentamento na região e, pior, a quase totalidade dos desabrigados voltou a viver nas áreas de risco. “O governador Sérgio Cabral justificou a letargia do seu governo alegando que é difícil encontrar terrenos seguros para transferir os moradores”.
Cadê a indignação, seletiva, cadê a adjetivação, preconceituosa?
Uma frase atribuída a um cientista político diz que deveria ser óbvio que os maiores investimentos deveriam ir para as cidades historicamente mais afetadas. “Mas ministros sem diretriz seguem seus interesses particulares. É uma demonstração de subdesenvolvimento político”, diz o cientista político Rubens Figueiredo.
Uma típica observação imbecil, pelo menos para o caso de Pernambuco.
Primeiro, no caso de FBC não teve motel, não teve ONG pilantra, a liberação das verbas seguiu todos os trâmites legais, da elaboração dos projetos à licitação.
Depois, a região da Zona da Mata entre Pernambuco e Alagoas vem sendo atingida por enchentes recorrentes desde 2000, sendo três ocorrências apenas entre 2010 e 2011.
Rubens Figueiredo não deve ter tomado conhecimento, mas até o pavão do Lula veio a Palmares colocar o pé na lama.
Os recursos depois foram prometidos pela presidente Dilma Rousseff por ocasião das últimas chuvas que vitimaram a população da região, em maio de 2011.
A denúncia de favorecimento a Pernambuco na liberação das verbas destinadas à prevenção de enchentes é, assim, uma balela. É que criticar o Nordeste é uma espécie de masturbação intelectual, São idéias que não precisam ter nexo com a realidade.
Elas precisam apenas dar prazer a quem pensa de tal maneira.
Respeito quem pensar diferente.