Pastor Ney Ladeia A notícia da construção de quatro viadutos cruzando a Avenida Agamenon Magalhães causou-me, inicialmente, surpresa e preocupação.
Mas foi com o tempo, e com a oportunidade de conhecer melhor o projeto, que as preocupações se ampliaram significativamente.
Foi fácil constatar que a idéia é, na verdade, muito pior do que parecia à primeira vista.
A população do Recife, embalada e iludida pelo discurso simplório em defesa da mobilidade urbana (clamor e necessidade de qualquer morador da cidade em nossos dias), foi chamada a aplaudir um projeto cujos benefícios são ínfimos e cujos custos(financeiros, sociais, estéticos, funcionais,etc.) são elevadíssimos. É preciso que se explique ao cidadão as razões para adoção de uma “solução” de viabilidade visivelmente questionável.
Só para mencionar algumas questões que saltam aos olhos de qualquer leigo que contemple as plantas do projeto: o projeto não apresenta qualquer melhoria que seja de longo prazo, uma vez que não proporciona nenhuma ampliação na capacidade da avenida.
Ao contrário disso, torna impossível qualquer projeto futuro de um melhor aproveitamento da Agamenon, uma artéria que poderia proporcionar excelentes alternativas de ligação entre as regiões norte e sul da cidade, através de diferentes tipos de transporte.
A parte aérea da Agamenon poderia ser aproveitada, no presente e/ou no futuro, para ampliar consideravelmente a capacidade da via e viabilizar a implantação de equipamentos de transporte publico rápidos, e eficientes, à semelhança dos que têm sido estudados pelo Governo do Estado.
Projeto dos viadutos na Agamenon Magalhães O cruzamento da avenida com 4 viadutos sepulta qualquer possibilidade de solução futura, ao repetir (e multiplicar) o erro cometido no passado com a construção do viaduto da av.
Norte.
A lógica observada no viaduto sobre a João de Barros é extremamente mais coerente.
O projeto não contempla cruzamentos como o do Derby, o da Rua Henrique Dias e o da rua Buenos Aires, que continuarão com semáforos, o que tornará a melhoria no fluxo muito pequena para justificar as intervenções.
A idéia proposta não apresenta solução para o deslocamento dos milhares de pedestres que teriam que cruzar a Avenida, nos trechos em que os viadutos teoricamente a tornariam uma via (quase) expressa.
As alternativas seriam: a travessia por sobre os viadutos– esta impraticável; a construção de passarelas, que somadas às que obrigatoriamente existiriam para possibilitar o acesso às estações de embarque para o transporte coletivo, teriam que ser em número razoável; ou a colocação de semáforos, o que derrubaria a tese da construção de viadutos para a eliminação ou redução de interrupções no trafego.
Ainda que se argumente que semáforos de pedestres têm duração menor, a diferença de tempo não seria grande em virtude da largura da via.
Basta refletir, rapidamente, [Colégio Americano Batista] sobre o número imenso de pedestres que hoje cruzam a Agamenon, em direção aos hospitais (Restauração, HEMOPE, Português, etc.) e às escolas (CAB, GGE,Contato, Vera Cruz, Maria Auxiliadora, Barbosa Lima, etc.).
Como seria o acesso?
E como fica a segurança deles, ainda mais expostos aos riscos do trânsito e dos assaltos?
O projeto tem o potencial de afetar e trazer transtornos a áreas cruciais para a população, como os hospitais citados, alem de dificultar o acesso às escolas mencionadas, qualquer que seja o meio de transporte empregado, e atingir diretamente instalações comercias e sociais que atendem a faixa considerável da população da cidade, e não apenas dos arredores, gerando desemprego, desconforto e grandes prejuízos.
A construção dos viadutos compromete e degrada uma área nobre [Praça do Parque Amorim e Igreja da Capunga] da cidade – a Praça do Parque Amorim, que seria radicalmente afetada pela instalação dos elevados, e fatalmente condenada a se tornar uma área degradada e entregue ao abandono e à marginalidade, como a totalidade dos viadutos já existentes na cidade.
Aparentemente, o projeto deixa de considerar os prejuízos decorrentes da “marginalização” de áreas nas quais o fluxo de pedestres é intenso e constante, pela grande quantidade de instalações de uso coletivo concentradas naquela região.
Alem de tudo isso, qualquer analise superficial é suficiente para que se possa prever transtornos imensuráveis na própria Avenida e no seu entorno durante sua execução das obras.
Enfim, é fácil perceber que pela ausência de resposta a questões tão simples, pelo altíssimo custo do projeto (inclusive político) para o governo atual, e pelos parcos benefícios reais previstos (que podem ser nulos se, por exemplo, a implantação de sinais de pedestres for inevitável como parece ser), o governo do Estado precisa rever e considerar o projeto.
Apelamos para que o nosso Governo de Pernambuco, que tem se pautado pela coerência, pelo bom senso e pela preocupação social, considere alguns dos vários projetos já existentes que aproveitam a própria calha da Agamenon Magalhães.
A alternativa é justamente a construção de elevados, ou soluções semelhantes, que aproveitem a área de que a Avenida já dispõe, sem necessidade de desapropriações (que têm alto custo financeiro e social), e com um impacto muito menor, tanto durante a execução quanto no futuro, e ainda com uma efetiva ampliação na capacidade de fluxo da Avenida, o que o projeto atual não tem condições de proporcionar.
A cidade do Recife Agradece.