Um levantamento encomendado pelo Ministério da Justiça, feito pelo Núcleo de Pesquisas de Gênero da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), constatou que em toda a história do Congresso Nacional foram registrada, desde 1969 até novembro deste ano, 97 propostas relacionadas aos direitos de homossexuais.
Destas, oito estão em andamento e têm o objetivo de proibir a união entre homossexuais.
Os dados do levantamento foram divulgados pelo governo brasileiro na sexta-feira (16), durante a 2ª Conferência Nacional de Políticas Públicas e Direitos Humanos de LGBT, que acontece até amanhã (18), em Brasília.
O levantamento analisou decisões judiciais, projetos de lei e portarias do Executivo sobre o tema.
No Judiciário foram identificadas 391 decisões de tribunais superiores sobre o tema, entre 1976 e 2011.
No Poder Executivo, desde 1995, foram editados 54 atos normativos que tratavam de políticas públicas envolvendo a população gay.
Segundo o material divulgado, há projetos que pedem que a relação entre pessoas do mesmo sexo não seja considerada como entidade familiar e que proíbem adoção de crianças por homossexuais.
Também há propostas para criminalizar a discriminação em locais de trabalho e projetos que visam a educação para evitar prática de bullying.
A pesquisadora da Unicamp Rosa Oliveira, que coordenou o estudo feito em parceria com a Secretaria de Reforma do Judiciário, disse que o que chama mais atenção são 101 casos judiciais dos quais 51 criminalizaram a homossexualidade.
O motivo é o artigo 235 do Código Penal Militar que pune militares com detenção de 6 meses a um ano pelo crime de praticar ou permitir crime de pederastia.
Essa foi a primeira norma brasileira a tratar de homossexualidade.
Segundo a pesquisa, entre 1976 e 1997, todas as decisões dos tribunais superiores eram relativas à pederastia. “Seria um avanço derrubar esse artigo do Código Militar que surgiu em 1969, em plena ditadura militar”, disse a pesquisadora.
Ela observou que os dados demostraram que o Legislativo é o poder menos atuante em relação aos direitos dos homossexuais. “Apesar de o Poder Legislativo ser o que menos coopera com relação aos direitos dos homossexuais, existe grande contribuição do Poder Judiciário e, a partir de 2008, do Executivo em implementar as políticas sociais nesse sentido”, afirmou Rosa Oliveira, que acredita que um dos motivos para a postura do Congresso Nacional é o chamado “fundamentalismo religioso”. “Existe um paredão do fundamentalismo religioso no Congresso, que se sobressai ao estado laico”, afirmou.
Ela revelou que há uma proposta de emenda à Constituição que pretende autorizar agremiações religiosas a contestar leis no Supremo. “Eles estão cercando por todos os lados e têm maioria no Legislativo”, avaliou.
Poder Executivo Das 54 normas sobre homossexuais criadas no pelo Poder Executivo e de conselhos profissionais, 38 surgiram a partir de 2008, sendo a maioria relacionadas às áreas da saúde e assistência social.
Os pesquisadores avaliam que esse incremento se deve ao estímulo dado pelo início das conferências nacionais de políticas públicas para homossexuais, como a que acontece em Brasília. “Depois de muitos anos de mobilização social, o Estado brasileiro começa a se apropriar da produção de políticas antidiscriminatórias”, lembrou a pesquisadora.
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