Do Jornal do Commercio As investidas do Tribunal de Contas do Estado (TCE) sobre o andamento da Via Mangue, principal obra viária da Prefeitura do Recife, levaram o prefeito João da Costa (PT) a uma forte reação com viés político em relação à postura do órgão.
O petista insinuou ontem que o tribunal estaria dispensando um rigor diferenciado e excessivo à obra, tratamento este que não teria sido observado em outras grandes intervenções viárias do Estado, citando a duplicação da BR-232 do Recife a Caruaru, obra símbolo do governo Jarbas Vasconcelos (1999-2006). “Se o tribunal tivesse feito esse monitoramento (da Via Mangue) na duplicação da BR-232, ela não teria dobrado de preço”, reclamou ele, após entrevista coletiva de balanço da gestão em 2011.
A declaração não veio acompanhada de mais comentários do gestor nem citação de nomes.
Mas haveria aí críticas veladas à relatora da auditoria especial no TCE sobre a Via Mangue, Teresa Duere.
A conselheira, que assume em janeiro a presidência do TCE, é ex-deputada do PFL e integrou o grupo de apoio à gestão do hoje senador Jarbas Vasconcelos.
A reação do prefeito se deve a um relatório preparado por técnicos do TCE, que trabalham no acompanhamento da Via Mangue, divulgado quarta-feira (13), em uma audiência pública na Câmara Municipal, indicando que se as obras continuarem no atual ritmo, a Via Mangue será inaugurada só após a Copa de 2014, com 14 meses de atraso.
A Prefeitura promete manter o cronograma de entrega da obra para setembro de 2013.
As obras começaram no dia 11 de junho e o percentual de execução previsto para agora seria de 11,54%.
Mas, de acordo com o TCE, a execução foi de apenas 3,70%.
Esse é mais um episódio de conflito entre o prefeito do Recife e o TCE por conta de obras e contratos firmados pela gestão.
A construção do Viaduto Capitão Temudo, a contratação da empresa de limpeza urbana para a cidade e a licitação da fornecedora de merenda escolar foram outras exemplos de desencontro entre a prática da gestão e a recomendação do TCE.
O TCE reagiu às insinuações do prefeito.
Surpreso com o teor da declaração dada por João da Costa, o presidente do tribunal, Marcos Loreto, não quis entrar em polêmica, mas estranhou a conotação “negativa” dada pelo prefeito ao trabalho da Corte. “Cobrar o cumprimento do cronograma de obras é algo positivo para o município”, afirmou.
Sem querer entrar nas discussões sobre o trabalho desenvolvido pelo TCE na época em que foi construída a BR-232, Loreto afirmou que não há como comparar a obra da rodovia com a Via Mangue. “A BR-232 não tem absolutamente nada a ver com o momento atual, que exige pressa por conta das questões da mobilidade visando a Copa do Mundo”, respondeu.