O anúncio do fechamento do Centro de Transplante de Medula Óssea (CTMO) do Hemope, feito recentemente pela Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco, foi recebido com espanto e revolta pela entidade dos Amigos do Transplante da Medula Óssea (ATMO).
A associação, que além de assistir os pacientes transplantados promove eventos de formação e captação de doadores, considera absurda e injustificável a medida do Governo. “O Governo do Estado, junto com o Hemope, havia constatado a necessidade de 30 leitos para a demanda de transplantes em Pernambuco.
Em abril de 2011, reafirmou o compromisso de alcançar esse número.
O Hemope, antes da medida, tinha três, e o Hospital Português, disponibilizava seis leitos para o SUS.
Agora, ao invés de aumentar, como prometeu, o governo anuncia o fechamento do CTMO”, explica indignado o presidente da ATMO, Gilberto de Castro.
Gilberto conta ainda que desde abril a entidade tentava marcar um encontro com o secretário de Saúde, Antônio Carlos Figueira.
Não obteve sucesso.
O que conseguiram, segundo o presidente, foi uma reunião com “uma gerente bastante desinformada”.
Em meio às tentativas, a ATMO soube do fechamento da unidade. “É um absurdo o que fizeram, e o fizeram com argumentos insustentáveis.
Pernambuco tem apenas seis leitos disponíveis, e uma fila de espera de 86 pessoas, das quais 29 já tinham doadores e cirurgias marcadas no Hemope.
O que fazer com essas pessoas? É uma questão de vida ou morte”, questiona Gilberto, que é advogado, e emenda: “O que o Governo do Estado escancara com essa medida é a política de privatização do sistema público de saúde e que só o enfraquece.
O Estado vai na contra-mão da economia e quer ostentar o posto de segundo polo médico do País. É, inclusive, inconstitucional a medida anunciada”.
Parte da revolta da ATMO se deve ao fato de o sistema público depender apenas dos serviços prestados por uma instituição privada. “Quem vai fiscalizar a excelência dos serviços desse hospital?
As instituições privadas têm seus interesse próprios, e não deve passar a fazer as vezes do Estado.
Saúde, pela constituição, é responsabilidade do Estado, e o privado vem para complementar o serviço público.
Em Pernambuco, agora, há uma completa substituição do público pelo particular”, disparou.
Em nota emitida em 8 de novembro, a Secretaria de Saúde justificava a “substituição”, a que se refere a ATMO, pela diferença de custo da mesma cirurgia feita no Hospital Português e no Hemope.
A nota informava que o procedimento no Hemope custava R$ 700 mil, enquanto que no privado apenas R$33 mil, preço vinte e uma vezes inferior.
Gilberto de Castro rebate: “Isso é uma mentira.
Esse cálculo é uma aritmética simplória e incorreta”, garante dizendo que, primeiro: o CTMO não possuía centro de custo próprio, portanto, o valor apresentado seria a soma dos gastos de todo o caixa divida pelo número de procedimentos cirúrgicos; e segundo, que no valor apresentado como quantia necessária no Hospital Português era apenas o da cirurgia, sem o pós e o pré-cirúrgico. “O governo quer enganar a população com esses números para não resolver o problema real, que é o sucateamento do Hemope.
O CTMO tem os melhores profissionais, mas está completamente sucateado, faltam insumos básicos.
Toda cirurgia complexa exige muitos insumos, que podem ou não ser usados”.
O Governo do Estado, na mesma nota, garante que em 2013 será entregue um novo Centro de Transplante de Medula Óssea, que funcionaria dentro do Hospital de Câncer de Pernambuco, e contaria com dez novos leitos A ATMO não acredita no que diz o governo, pois “diante de uma série de mentiras, é difícil crer que seja verdade”.
Durante toda a semana, o Blog de Jamildo procurou esclarecer as indagações dos Amigos do Transplante da Medula Óssea junto à Secretaria de Saúde.
Entretanto não obteve resposta alguma.