Por Renato Terra, da Revista Piauí Candidato a vereador que se preza nunca diz “prazer” ao cumprimentar um eleitor no corpo a corpo.

Por uma razão elementar: pode não ser a primeira vez que ele aperta a mão daquela pessoa.

Para evitar perder voto por uma besteira assim, a receita é olhar nos olhos e dizer “Como vai?”.

O macete é cortesia de Marco Vales, que foi vice-prefeito do Rio de Janeiro na chapa de Cesar Maia.

Vales é um dos quadros cariocas do PSD, o mais novo partido brasileiro.

Suas dicas eram dirigidas aos mais de trinta participantes de um seminário da série “Seja vereador: o passo a passo para ser candidato competitivo”, promovida pelo PSD em setembro.

Vinham de horizontes diversos: tinha cabeleireira, comerciante, jornalista, professor, taxista e militar.

Haviam desembolsado 10 reais cada um para assistirem ao evento de quatro horas no Inirio, o Instituto de Novas Ideias para o Rio de Janeiro criado por Indio da Costa.

Todos portavam a pasta com as iniciais do PSD que receberam na entrada.

Dentro dela, o partido estendia as mãos para o aluno esquecido presenteando-o com duas folhas de papel e uma caneta.

Frequentar filas e ônibus foi outra orientação fundamental que os aspirantes à Câmara Municipal ouviram de Marco Vales. “Puxe assunto, assim você ouve as reclamações e pega os ingredientes para montar seu discurso”, recomendou.

Quando as propostas estiverem azeitadas e a equipe montada, ensinou Vales, será hora de organizar pequenas reuniões na casa de possíveis eleitores.

Nesses encontros, a aparência é fundamental. “Não vá se apresentar de bermuda e sandália”, advertiu. “O eleitor vê o candidato como uma celebridade.” Enquanto os slides de PowerPoint se sucediam na tela projetada no auditório, Vales leu e explicou, uma a uma, afirmativas como “Não existe fórmula mágica para ganhar a eleição”, “A verdade vem depois da última urna desligada” e “Em eleições, existem verdades e mentiras absolutas”.

O ex-vice-prefeito frisou a importância de os candidatos adequarem seus discursos aos anseios da população – como fizeram Jânio Quadros, Fernando Collor e Tiririca, comparou.

O ex-vereador Paulo Cerri também falou durante o seminário e deu conselhos de quem conhece a Câmara por dentro.

Disse que era fundamental dominar a Lei Orgânica do Rio, o Plano Diretor da Cidade e o regimento interno da casa. “Na minha época, éramos apenas quatro vereadores na oposição ao prefeito Luiz Paulo Conde.

Mas, por conhecermos o regimento interno, obstruímos vários projetos”, contou com orgulho.

A primeira intervenção da plateia veio quando Cerri citou o número de vereadores que o Rio elege a cada quatro anos: “Cinquenta e um vão entrar.

Se não for um de nós, será um miliciano ou um traficante”.

Para o PSD, a dica mais importante da noite foi dada logo no início da apresentação de Marco Vales.

Candidatar-se a vereador era uma corrida contra o tempo.

Quem quisesse concorrer nas próximas eleições teria de se filiar a um partido em, no máximo, sete dias úteis.

Vales projetou uma linha do tempo com as datas mais importantes do calendário eleitoral: os prazos de pré-campanha, as convenções do partido, da propaganda eleitoral na televisão e, claro, o dia das eleições. “Comparo a pré-campanha e a campanha a uma peça de teatro”, arriscou. “Elas vão do ensaio até o aplauso, ou seja, o voto.” O ex-vice-prefeito nem precisava ter completado o raciocínio com seu corolário: “O candidato é um personagem.” Leia mais AQUI (não deixe de ler!)