No Jornal do Commercio A segurança e a galhofa da véspera, quando o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, desafiou a presidente Dilma Rousseff e disse que duvidava de sua demissão, e que só sairia “abatido à bala”, foram substituídas ontem pela humildade.

As declarações do ministro, com apoio do seu partido, o PDT, causaram enorme mal-estar no governo.

Dilma exigiu uma retratação pública de Lupi.

Após levar uma reprimenda da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que o chamou ao Palácio do Planalto para repassar recado da presidente de que quem demite na Esplanada é ela, Lupi fez um “mea culpa”.

E o PDT amenizou a ameaça de deixar o governo, se o ministro cair (ver matéria abaixo).

Mesmo com a retratação, o destino de Lupi já foi selado: segundo interlocutores de Dilma, ele sairá do governo no início do ano que vem, quando será feita a primeira reforma ministerial do governo.

Nas palavras deste interlocutor, o desempenho de Lupi já era considerado sofrível antes das denúncias envolvendo a pasta: falta de fiscalização de centenas de convênios e suspeitas de cobrança de propina de funcionários.

Tanto que o Planalto esvaziara as funções do Ministério Trabalho.

As bravatas de anteontem irritaram profundamente a presidente, mas a prioridade de Dilma e do governo no momento era a aprovação, ontem na Câmara, da emenda que prorroga a Desvinculação de Receitas da União (DRU).

Gleisi repassou o recado a Lupi em reunião reservada, antes de um encontro já marcado com o ministro para tratar da implantação do ponto eletrônico na Esplanada dos Ministérios.

Ela deixou claro que Dilma considerou um exagero e que houve excesso em suas declarações. “Todos os ministros deste governo sabem que quem nomeia e quem demite é a presidenta da República”, disse Gleisi a Lupi, segundo interlocutores do Planalto.

Antes desta conversa, Lupi já baixara o tom, dizendo que não quis desafiar a presidente, mas desafiar “a onda de denuncismo no país”. À tarde, ele admitiu que errou na véspera.

Justificou-se, dizendo que se empolgou e que, diante das “pancadas” que tem levado, exagerou no tom.

Mas, em nenhum momento, disse que quis enfrentar a presidente. “Me empolguei.

Sou humano”, disse o ministro, acrescentando que podem vasculhar sua vida.

Mesmo quando disse, ainda de manhã, que não desafiara a presidente, mas o denuncismo, Lupi voltou a se precipitar, ao considerar o caso superado.

Afirmou que já tinha dado as respostas e apresentado os documentos necessários, que o procurador-geral da República já havia se pronunciado e que, agora, iria trabalhar.

Ao ser questionado se era a “bola da vez”, mostrou segurança: “Só se for a bola sete, que é a bola que dá a vitória”.