Por: Marcelo Ferreira Lima Uma pesquisa recente encomendada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), mostrou que seis em cada dez usuários tiveram problemas com o plano de saúde no ano passado.
A queixa mais comum apontada pelos entrevistados foi em relação à demora em conseguir atendimento nas emergências, laboratório ou clínica e marcação de consulta refletindo a desorganização do sistema privado de saúde e consequentemente levando ao comprometimento da qualidade na assistência.
Na verdade, muitos de nós, nem sabemos a quanto anda este sistema de saúde e acabamos pagando um alto preço, na ilusão de ter um serviço de qualidade baseado no custo da mensalidade.O preço maior que pagamos é quando estamos, por um motivo ou outro, fragilizados e dependentes destes serviços de saúde.
Nem mesmo o “pagamento por serviços diferenciados” nos garante dignidade no atendimento, o que acaba nos deixando a mercê das intermináveis agendas e listas de espera, que são justificadas pela quebra de braço entre as operadoras de planos de saúde e os profissionais médicos que empunhando a bandeira da má remuneração para justificar o não cumprimento do contrato aceito por estes profissionais na prestação de serviços aos usuários, tornam a relação entre o profissional e os planos de saúde conflituosa, passando assim, a população assistida a desempenhar o papel do “cabo de guerra da situação”.
Mas na fase da “conquista”, as prestadoras de planos de saúde, com suas propagandas mirabolantes e “convincentes” prometem agilidade, acesso aos grandes e modernos hospitais e aos meios de diagnóstico, com tecnologia e convênio com profissionais qualificados.
Só não prometem o céu porque, de fato, esta seria a última coisa que um usuário de plano de saúde gostaria que lhe fosse prometido, obviamente.
Acreditando estar livre da demanda interminável do SUS, como assim prega a mídia dos planos às pessoas, assinam o contrato com uma prestadora, sem saber que estão assinando consequentemente o atestado de uma “enxaqueca” interminável.
Todo mês o boleto de pagamento está ali, mas e o serviço, será que estará?
Certamente, o boleto será mais assíduo do que a cobertura de saúde “prevista” necessária.
E se atrasar meu amigo, os Juros exorbitantes martelam mais ainda a sua cabeça.
Alguns chegam a cobrar 10% de juros mais multa. “Enxaqueca” contraída e com os “sintomas” em dia, o usuário parte à procura do seu atendimento e tem a informação de que o médico solicitado só atende pelo convênio por meio de reembolso.
Isso chega a soar cruel para quem se sacrifica para manter as tais parcelas em dia.
Absurdo é saber que estar em dia com o pagamento não garante o atendimento, o que nos obriga a entrar no esquema do tal reembolso, ou seja, pagar duas vezes para ter serviços de saúde e ser reembolsado depois de 30 dias, e ainda mais por uma quantia inferior ao que pagou para ter a assistência.
Neste jogo sofrido de “cabo de guerra”, quem perde?
Os usuários, onde fica o direito deste que depositou a sua saúde em confiança destas prestadoras e sua equipe?
Respeito o direito de expressão dos médicos em relação à indignação do pagamento dos seus honorários, mas a saúde e a confiança do usuário devem estar acima destas brigas.
O mínimo que estes profissionais deveriam fazer para não cumprir o que acordou ao assinar o contrato de prestação de serviço seria se descredenciar dos planos de Saúde, já que não concordam com a remuneração recebida, passando assim, a poupar aquele que é o menos culpado e que não pode ser penalizado: o usuário que está em dia financeiramente, na esperança de ter sua necessidade de atendimento devidamente contemplada.
Neste jogo de forças, estamos lidando com vidas e em muitos casos não podemos esperar dois, ou três meses para sermos diagnosticados e iniciar um tratamento de saúde, pois esta demora pode ser fatal.
O Serviço de saúde privada enfrenta uma crise que é travada meramente no plano econômico, onde há a inversão de valores, onde o que seria para ser o mais importante, ou seja , o digno acolhimento e o humanizado tratamento, perde cada vez mais o espaço para o mero embate financeiro, deixando esquecido, cada vez mais, os conceitos hipocráticos.
Temos que lembrar que somos iguais também na necessidade e por isso, a dignidade e respeito ao ser humano devem estar acima de qualquer interesse, principalmente naqueles que se dispõem, de alguma forma a cuidar de vidas.
Marcelo Ferreira Lima é Mestre em Odontologia pela UPE e Gestor em Saúde Pública de Pernambuco.