Por Zélio Furtado da Silva, especial para o Blog de Jamildo A volta da democracia nos países árabes fez ressurgir a feliz expressão cunhada por ocasião do efêmero movimento libertário na Tchecoslováquia contra a poderosa União Soviética: a Primavera de Praga, liderada pelo reformista eslovaco Alexander Dubcek durou pouco, 05.01 a 21.08 de 1968, todavia ficou o nome como sinônimo de reforma política, movimento contra dominação, busca de democracia ceifada por tiranias, e impiedosos tiranos.
Na atualidade a Primavera Árabe dá todo o significado às revoltas populares que derrubam os regimes ditatoriais daquela região, buscando implementar uma democracia representativa em que as liberdades políticas individuais, coletivas e de imprensa sejam respeitadas.
Esses ventos primaveris bem que poderiam soprar em direção a Cuba para reformar o clima asfixiante imposto ao seu povo há mais de meio século.
GADDAFI passou 42 anos no poder.
Não menos cruéis, FIDEL e seu irmão RAUL, estão há mais de 50 anos.
Não há opção: os que discordam do regime são presos e torturados nos fétidos cárceres; outros fogem, atravessam fronteiras, sobrevivem como imigrantes, convivem em guetos e trabalham em condições subumanas, driblando a polícia de imigração etc.
A prisão, a tortura e morte, a fuga – quase suicida -, é o preço que se tem pago em meio século de ditadura.
Cuba e o seu sofrido povo merecem ter sua Primavera.
A Primavera Cubana se impõe, porque mais de meio século já se foi à espera de uma tardia democracia que a comunidade internacional insiste em não dar a devida atenção.
Não é novidade afirmar que, em matéria de política internacional, a hipocrisia é regra.
As relações entre as Nações se guiam, quase sempre, por uma lógica: os interesses econômicos.
Assim, por exemplo, o cidadão árabe pouca importância teria se o subsolo em que pisa não estivesse minada de petróleo.
Portanto, o interesse visado não é pelo cidadão árabe submetido a uma ditadura, é sim pelo que existe no seu território.
Isso é óbvio.
Todavia, com um discurso em defesa da liberdade e da democracia, na vã ilusão de que uma cultura se transforma com bombas e fuzis, as Nações ricas vão fazendo de conta que defendem esses valores para justificar sua indecente ganância: a obtenção de territórios ricos em recursos naturais e estratégicos, através de guerras de conquista ou patrocinando os pseudos rebeldes.
Não há limites para o cinismo.
Não tenho dúvida de que Cuba rica em recursos minerais já teria sido tomada por tropas internacionais.
O povo cubano vem sofrendo as mais humilhantes privações em suas liberdades.
Enquanto não houver coerência entre o discurso e a prática na comunidade internacional rica e dominante, assumindo com seriedade o papel de defesa da democracia e das liberdades, não veremos os “rebeldes” nas ruas de Havana para salvar o povo cubano da tirania, e infelizmente, não haverá de acontecer a Primavera de Cuba.
Zélio Furtado da Silva Mestre e Doutor em Direito Professor da UFPE.