Por Murilo Camarotto, no Valor Econômico O período de filiações para a eleição do ano que vem foi marcado em Pernambuco por uma série de movimentações focadas na disputa de 2014, o que acabou expondo as primeiras rachaduras na Frente Popular, como é chamada a ampla base de apoio ao governador Eduardo Campos (PSB).
Os ruídos mais altos foram ouvidos no apagar das luzes das inscrições, quando o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB), mudou o domicílio eleitoral de Petrolina, no sertão do Estado, para o Recife.
A capital pernambucana é comandada há dez anos pelo PT, que apesar de um interminável racha interno - e de uma administração mal avaliada - não cogita a possibilidade de abrir mão da prefeitura.
O problema é que o partido também não topa assumir desde já o compromisso de apoiar o candidato do PSB para a sucessão de Campos em 2014, seja ele quem for.
O principal temor dos petistas é que o nome escolhido seja justamente o de Bezerra Coelho.
Com origem no antigo PFL e três vezes prefeito de Petrolina, o ministro alimenta há anos o sonho de exercer um cargo majoritário relevante no Estado.
Desde 1998 foram três tentativas frustradas para disputar o governo.
A última desilusão veio no ano passado, quando acabou preterido da disputa ao Senado em benefício do então deputado federal Armando Monteiro Neto (PTB), eleito com folga ao lado do ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT).
Ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Monteiro Neto também quer ser governador em 2014, o que inviabiliza ainda mais a harmonia no inchado palanque de Eduardo Campos, hoje com 16 partidos.
Em busca de maior cacife, o senador tem se movimentado intensamente, articulando candidaturas competitivas em municípios do interior.
Na capital, o PTB deixou a base de apoio ao prefeito João da Costa (PT) e deverá lançar o deputado estadual Silvio Costa Filho para a sucessão municipal.
A estratégia tem desagradado o PSB e o governo estadual, que nos bastidores já começam a tratar o PTB como adversário.
Em sua última investida contra o projeto de Monteiro Neto, o PSB mudou o domicílio do deputado estadual Aluisio Lessa para Goiana, município da Mata Norte que ganhará importância após a construção da fábrica da Fiat.
Pouco antes, o PTB havia tirado do PV o bancário Fred da Caixa, que obteve a maior votação para deputado estadual na cidade e é considerado favorito para a disputa à prefeitura. “O que houve foi que companheiros do PSB no governo do Estado, na Assembleia Legislativa e na Câmara de Vereadores [do Recife] perceberam uma necessidade de atuação frente aos movimentos que estão sendo feitos por partidos da base visando fortalecimento e posterior independência em 2014”, afirmou ao Valor o ministro Fernando Bezerra, ao justificar a mudança de seu domicílio eleitoral para o Recife.
Além das andanças de Monteiro Neto, o ministro se referia às movimentações do PT, que recentemente acolheu o ex-prefeito de Petrolina Odacy Amorim, que quer voltar ao poder local e vinha se queixando de falta de espaço no PSB.
Bezerra Coelho citou ainda o caso de Gesimário Baracho, prefeito de Igarassu, na região metropolitana do Recife, outro que trocou o PSB pelo PT.
Disposto a manter as boas relações com o governador, o PT nega as acusações de cooptação e adota o tom conciliador.
O partido sabe que vai precisar da força política de Campos para convencer a população do Recife a dar um segundo mandato ao atual prefeito, cuja popularidade vai de mal a pior.
Tanto que engoliu a seco a criação do bloco PSB-PSD na Câmara dos Vereadores da capital, que apesar de integrar a base de apoio, promete não dar vida fácil a João da Costa.
Uma das principais lideranças do PT no Estado, o senador Humberto Costa disse ter visto com normalidade a mudança de domicílio de Bezerra Coelho, de quem o partido tem, na verdade, arrepios.
Sobre 2014, o discurso petista fala em “construção de uma candidatura da Frente Popular”, apesar de também ser conhecido o desejo de tirar do PSB a hegemonia política no Estado.
Mas, pelo menos por enquanto, Eduardo Campos também não tem interesse em quebrar a aliança.
A depender da estratégia a ser adotada por ele em seu desejado plano de voo nacional, a manutenção da parceria com o PT terá um papel importante.
Os aliados alertam, contudo, que a sede por vitórias esmagadoras demonstrada em disputas recentes, como a em que ele colocou a mãe, Ana Arraes, no Tribunal de Contas da União (TCU), poderá prejudicar politicamente o governador. “Se o PSB quer se fortalecer demais em detrimento dos outros partidos da Frente, aí a tendência é o esfacelamento”, afirmou uma fonte próxima a Monteiro Neto.
O senador, que vinha adotando um discurso apaziguador, engrossou o verbo recentemente, ao afirmar em entrevistas que “não tem que pedir licença para se articular em seu próprio Estado”.
Apesar das negativas, existe a chance de que ele mude de lado já no ano que vem.
No que depender do PMDB, que em Pernambuco integra a minguada oposição a Campos, será bem recebido.