“O Maníaco do trechinho” Nesta categoria, visto a carapuça numa boa.

Muitas vezes me pego, inclusive aqui nesta crônica diária, como um autêntico “maníaco do trechinho”.

Trata-se da criatura que sapeca uma citação por minuto nas oiças alheias.

Vacilou e ele tasca um “como diria Nelson Rodrigues nem todas mulheres gostam de apanhar, só as normais”.

Como diria Fernando Pessoa, tudo vale a pena blábláblá…

O poeta português, aliás, é a grande doença do citador obsessivo.

Sempre tem alguém à mesa com um trechinho do gajo para ilustrar qualquer assunto.

Você está falando a maior e mais rasa banalidade do universo e lá vem o maníaco com um papo “Eu profundo & Outros Eus”.

Pior é que a fartura é grande.

Só de heterônimos Pessoa tinha uns trezentos. É verso para mais de metro.

Outra que reina nessa mesma pegada é Clarice Lispector.

Entre as mulheres principalmente.

A “maníaca do trechinho” também não perdoa, dispara a sua sensível metranca de citações.

Da mesma prateleira de Clarice, Caio Fernando Abreu é outro sacado a cada segundo.

Haja epifanias nas redes sociais, como lembraram recentemente os colegas Alexandra Moraes e Roberto Kaz em texto na Ilustrada.

Mas o “maníaco do trechinho” , tipo surgido em uma conversa –repleta de citações- com Rita Wainer, ataca em todos os meios e ocasiões.

Claro que é mais doloroso na hora da conquista.

Tenta ganhar a possível futura pessoa amada pelos ouvidos.

Alguns pegam pesado: atacam de Heidegger ou Jean-Paul Sartre como se tivessem falando de Wando e Reginaldo Rossi. Óbvio que às vezes o cara acerta e cozinha, ao ponto, o juízo da garota.

Frase de tiro certeiro.

Baba, baby.

Baba de moça diante do cortês don Juan e o seu embornal de fraseados e chilreios.

Falar nisso, chefões do G-20, tenho uma proposta para salvação da economia grega.

Que o governo daquele país cobre um imposto internacional sobre cada citação dos seus filósofos.

Sacou um Sócrates, morre com um troco; Platão, idem; Aristóteles nem se fala.

Eu morreria pobre de tanto mandar moedas para o Epicuro, o meu pessimista sorridente preferido.

E você, amiga, já foi muito importunada por um “maníaco do trechinho”?

Conta pra gente, vai, relaxa porque hoje é sexta. *Xico Sá é jornalista e escreve crônicas na Folha de São Paulo