Ontem a Serra Leoa, A guerra, a caça ao leão, O sono dormido à toa Sob as tendas d’amplidão!
Hoje… o porão negro, fundo, Infecto, apertado, imundo, Tendo a peste por jaguar…
E o sono sempre cortado Pelo arranco de um finado, E o baque de um corpo ao mar… (Trecho do poema Navio Negreiro - Castro Alves) Por Pedro Anibal de Brito, especial para o Blog de Jamildo Nunca é suficiente recordar de onde vem a origem étnica do povo brasileiro.
Viemos da mistura secular: Do nativo desta terra; do colonizador “branco” europeu – Gilberto Freire explica melhor estas aspas; e do valente Africano.
Aprendemos esta lição na escola desde criança.
Muitos de nós tomamos para si uma das raças que mais se afeiçoa, ou rendemo-nos a ela a cada embate diário com o espelho.
Outros encaram verdadeiramente a miscigenação quingentésima desta Nação, não se importando se a origem é esta, essa ou aquela outra.
O certo é que as heranças de todas elas se fazem presente em nossa vida e estão visceralmente expressas e imbricadas, seja na língua, na música, na dança, na gastronomia, nas superstições, nas roupas, na religião, enfim, elas são o espelho de nós mesmos.
Assim, de que vale um povo se não encontra em sua cultura o cimento edificador de sua identidade e oferece ao visitante o que ele não trás consigo.
Já há alguns anos, muitos pernambucanos, tais quais nossos irmãos baianos, descobriram que encarar suas origens negras, ou melhor, ser afro-descendente brasileiro, além de motivo de grande orgulho, é princípio de reafirmação de nossas origens, sem negar a brasilidade, e, ao mesmo tempo, agente do engrandecimento da raça e de sua herança, além de influenciar a formação dos futuros brasileiros, em qualquer que seja o rincão que se encontrem, conscientizando-os que apesar de seus antepassados terem sido trazidos para cá em condições sub-humanas e submetidos a toda sorte de seus algozes, sobreviveram e influenciaram a formação de uma Nação inteira.
Este mês de novembro celebra-se o Mês da Consciência Negra, e neste ano em especial o Ano Internacional dos Afro-descendentes, e como não poderia deixar de ser, tudo começa pela fé.
No dia 4 de novembro, sexta-feira, a partir das 15hs, na Praça do Marco Zero, partirá um dos mais belos e autênticos cortejos da Religiosidade de nosso povo, a 5ª Caminhada dos Terreiros de Pernambuco.
Foi está fé que manteve vivo nos corações e mentes daqueles que persistiram bravamente às intempéries do tempo e do açoite as tradições e a cultura que tanto valorizamos.
A fé é matriz de tudo aquilo que faz parte do que orgulhosamente chamamos de “nossas coisas”.
Pois, foram através dos Terreiros de Xangô e de seus Sacerdotes, sacerdotisas, discípulos e cultuadores que se mantiveram firmes e pulsantes – apesar de toda perseguição e discriminação que sofreram e ainda sofrem – palavras e costumes os quais até hoje nos deixam conhecer: o agogô, o banzo, o cafuné, o Maracatu, o frevo (dança), o samba, a mandinga e até a tanga.
Apenas um exemplo de tantas outras palavras que presentearam à Língua Portuguesa e lhe deu o molejo que é tão nosso o qual tanto nos orgulhamos.
Este é um evento que além de abrir um calendário festivo, celebra também à resistência religiosa daqueles nossos antepassados que tanto contribuíram para o que somos hoje: Brasileiros.
O turismo de Pernambuco bravamente dá seus primeiros passos em direção à valorização desse crescente movimento cultural.
Encontra-se em visita hoje em nosso estado profissionais norte americanos especializados no turismo étnico: os TPOC’s – uma associação de operadores e agentes de turismo dos EUA – que estão interessados em conhecer um pouco mais do que já sabem e ir além do “samba carioca” e do “ritmo do Pelô”.
Eles, a convite do Governo do Estado, Secretaria de Turismo e EMPETUR, estão descobrindo e reconhecendo as nossas riquezas africanas e saber que o Brasil e feito de muitos outros tons que hereditariamente também os pertence.
PEDRO ANÍBAL DE BRITO – Professor, MBA em Marketing e Turismólogo