Eduardo de Almeida Carneiro, na Folha de São Paulo de hoje De acordo com o Censo 2000, 14,5% da população apresenta algum tipo de incapacidade ou deficiência física.

Visto assim, como simples estatística, estamos diante de um número curto e frio.

Tão frio quanto ignorar que, na prática, estamos falando de um contingente de mais de 27 milhões de brasileiros! É como se a todos os cidadãos de toda a Grande São Paulo estivesse faltando um braço, uma perna.

Ou os dois.

Ou os quatro.

Como se nós vivêssemos em uma metrópole literalmente movida à cadeira de rodas.

Mas ainda assim cidadãos, com todos os direitos -e deveres- iguais aos de qualquer pessoa que esteja lendo este artigo neste momento.

O Brasil é signatário da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

Mas nós, brasileiros, infelizmente ainda somos preconceituosos e hipócritas ao julgar (quem pode julgar?) o deficiente não pelo valor humano do seu olhar, mas pelas formas físicas que os diferem da média.

No “país do futuro”, com uma das economias mais vibrantes e crescentes da atualidade, perde-se uma oportunidade astronômica de vencer barreiras e promover a inclusão social de gente com enorme vontade e capacidade de trabalhar, sustentar famílias, gerar renda, estudar e ser respeitada.

Ou seja, simplesmente participar e usufruir da sociedade.

Sem dúvida os empregadores da iniciativa pública e privada estão se preocupando cada vez mais em promover ambientes de trabalho adaptados.

Mas é o suficiente?

Não.

Os olhares indiscretos dos colegas de escritório são muros de concreto intransponíveis.

E como elas chegam ao trabalho com tantas calçadas esburacadas, motoristas que não respeitam faixas de trânsito, transporte público adaptado incrivelmente escasso e passageiros sem a menor paciência para esperar o cadeirante se acomodar no ônibus ou no metrô?

Como as crianças deficientes podem ser educadas adequadamente com uma preocupante lacuna de educadores, despreparados para responder às suas necessidades específicas?

Aliás, o que os engenheiros dos estádios da Copa de 2014 e das demais obras deste canteiro chamado Brasil estão preparando para os 27 milhões de torcedores?

Há 61 anos, a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), entidade sem fins lucrativos, com seus profissionais e voluntários, vem lutando para tratar, reabilitar e promover a inclusão social de pessoas com deficiência física.

Em 2010, conseguiu realizar 1.348.799 atendimentos, entre cirurgias, consultas, aulas e terapias.

Foram mais de 5.800 atendimentos diários, 6.451 cirurgias e 60.655 aparelhos ortopédicos fabricados e comercializados, que contribuíram para melhorar a qualidade de vida de milhares de deficientes físicos.

Graças à gestão profissionalizada e, principalmente, às doações do Teleton (campanha televisiva que será levada ao ar nos dias 21 e 22 de outubro pelo SBT e pela TV Cultura), mantém 12 unidades no Brasil.

Vitórias diárias, sabemos.

Mas cujas medalhas da inclusão social e do fim do preconceito ainda esperamos receber.

EDUARDO DE ALMEIDA CARNEIRO é presidente voluntário da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).