Por Fernando Duarte, especial para o Blog de Jamildo O distanciamento cultural entre o que é produzido na capital e no interior já foi assunto muito debatido.

Será que os que estão na correria do dia a dia, dos engarrafamentos, do estresse diário, sabem o que culturalmente se tem nos municípios mais distantes?

Será que sabem dos quilombos de Santa Maria da Boa Vista, do samba de Matuto da Mata Sul, do Samba de Véio contagiante de Petrolina, das rezadeiras do Sertão, do Taboquinhas de Vitória de Santo Antão, o único bloco de fado existente no Brasil?

Claro que pesquisadores e pessoas mais envolvidas com cultura conhecem boa parte do que citei acima.

Mas, a maioria, provavelmente, desconhece a enorme riqueza cultural de Pernambuco.

Nós, que fazemos a Secretaria de Cultura do Governo do Estado e a Fundarpe, estamos desde março, percorrendo municípios, realizando várias edições do Festival Pernambuco Nação Cultural.

Percorremos, além da cidade sede, outros municípios da região.

O resultado tem sido extraordinário.

Sempre em parceria com as prefeituras, montamos as programações respeitando as características da cultura local, seus artistas, cotidiano, etc.

Um diálogo muito enriquecedor, vivo, que leva o entretenimento, mas deixa raízes. É arte, cultura, mas também formação, debate, conversas, encontros, narrativas que mexem com a vida das pessoas.

Agora, por exemplo, estamos em Palmares e em mais sete cidades da Mata Sul.

Antes de realizar essa etapa, pensamos em todo o sofrimento vivido pelas cidades atingidas recentemente pelas enchentes do rio Una.

Será que seria oportuno levar um festival cultural para cidades que sofreram tanto recentemente?

Fomos em frente.

Resgatar a autoestima do povo da Mata Sul era problema nosso, sim.

Pegamos a estrada.

A resposta do povo não poderia ter sido melhor.

Oficinas – são 30 no total - lotadas.

Praça Paulo Paranhos, em Palmares, cheia para ver a cultura feita na região.

O Cine Teatro Apolo, nessa mesma cidade, que ficou bem deteriorado pela cheia de 2010, esteve lotado na última terça,18, para assistir ao espetáculo Zambo, do Grupo Experimental.

Não havia acontecido nada neste teatro, desde a cheia, mas a ocupação com o Zambo e a presença, em peso, da população, fortaleceu o sentido de que o teatro é mesmo do povo e o espetáculo não pode parar.

Nas outras cidades, a cultura mostra também a sua força.

Em Rio Formoso, teremos um grande encontro de quilombolas, no Quilombo de Siqueira.

Em Água Preta, quase divisa com Alagoas, teremos oficina para confecção de trajes de guerreiro, tradição que estava morrendo na região.

Em Vitória de Santo Antão, estão acontecendo encontros de carnavalescos e projeção de fotos de antigos carnavais.

Para quem não sabe, o Carnaval vitoriense foi precursor dos carros alegóricos que se vêem hoje na Sapucaí.

Ali também desfila o Taboquinhas, já citado como agremiação que traz o fado como estandarte.

Levar o Festival Pernambuco Nação Cultural para a Mata Sul foi decisão de Governo.

Uma população tão sofrida, tão castigada, merece, junto com a reconstrução de pedra e cal, também a reconstrução espiritual.

E a cultura tem essa força.

Tem a capacidade de produzir emoções.

De construir o novo.

Para nós, da Secretaria de Cultura de Pernambuco, é uma questão importante construir uma nova Mata Sul.

Uma Mata Sul que troque lágrimas e desespero por sorrisos e aplausos.

Fernando Duarte é secretário de Cultura de Pernambuco