Por Fernando Gabeira, em seu blog -Se você souber para onde foi o dinheiro, me diz que eu quero saber.
Esta frase foi dita por Paulo César Martins, coordenador do Instituto Rumo Certo, filiado ao PC do B, respondendo sobre o destino dos R$11,3 milhões do programa Segundo Tempo, que seriam aplicados na Rocinha.
Isso saiu no Globo de hoje, onde há um levantamento dos principais projetos do programa Segundo Tempo.
Por seu lado, a Contas Abertas fez um balanço dos projetos do Segundo Tempo e concluiu que R$25,5 milhões foram destinados a duas entidades que têm dirigentes do PC do B, entre 2006 e 2001.
Na pequena cidade baiana de Conceição do Jacuipe, a Associação Cultural, ligada ao PC do B, recebeu R$9,8 milhões para construir uma fábrica de xadrez,soma equivalente a três vezes o que a Prefeitura da cidade conseguiu captar do Ministério.
Uma boa síntese de tudo está no próprio Tribunal de Contas que pede de volta às entidades conveniadas com o Ministério dos Esportes cerca de R$49 milhões, usados sem comprovação adequada.
Tudo isso mostra a singularidade da cultura política brasileira.
O Ministro dos Esportes foi aplaudido por uma claque ao afirmar que não havia provas de que recebeu dinheiro na garagem.
A presidente da República afirma também que o ministro é de sua confiança e , como todos os acusados, merece a presunção da inocência.
O visível aparelhamento do ministério, com a inequívoca distribuição de dinheiro para cabos eleitorais do PC do B, não é considerado um tema importante, ou pelo menos, digno de questionamento.
Tudo o que interessa é o os americanos chamam de revólver fumegante e, na cultura brasileira, batom na cueca.
O paciente acúmulo de dados, a relação entre as inúmeras dotações de verbas do Ministério- tudo isso escapou aos debates de ontem no Congresso.
No fundo, a sensação que tem é de que é legítimo destinar dinheiro em grande quantidade para cabos eleitorais, ou gente que concorre pelo partido para acrescentar uns votinhos à legenda.
A cultura política pressupõe que o Ministério pertença a um partido e deva ser usado para que ele cresça e aumente sua esfera de poder.
O que se condena apenas é receber dinheiro na garagem do Ministério.
Ou melhor, receber dinheiro e ser filmado.
Assim mesmo, se for filmado como Jaqueline Roriz, tem condições de escapar.
Depende do ângulo, da luz, da composição.
Parecemos o marido que foi descoberto com outra na cama pela própria mulher e, no dia seguinte, com um bouquê de flores, volta para ela e pergunta: você vai acreditar no que viu ou vai acreditar em mim?