Por Eduardo Turton* e Gustavo Krause Eis uma pergunta sem resposta precisa e cabal.

Definir é, por essência, limitar e pecar pela falta.

E a própria noção de gênio compreende tamanha amplitude que combina raízes etimológicas árabes e greco-romanas com um desgaste semântico em razão da vulgarização do termo.

No entanto, o sentido mais consagrado é o que identifica o gênio a um espírito que exerce influência sobre as pessoas e, por conseguinte, é a aptidão, o talento natural, a força intelectual, sobretudo, criadora que transforma e marca a evolução da humanidade.

No mais, é mistério e raridade da consciência ampla e aberta que remete ao transcendental, ao extraordinário e que se manifesta nos mais diversos campos da atividade humana.

Muitos (gênios) refletiram, escreveram sobre o gênio e deixaram pistas capazes de enxergar os sinais do mistério ainda que insuficientes para compreendê-los na dimensão humana que, por ser humana, é genialmente imperfeita.

Seguem algumas pistas da genialidade.

O gênio morto está mais vivo do que nós: a vitalidade é a medida do gênio.

Todo gênio tem seus predecessores, ainda que remotos, mas somente um gênio sabe tomar emprestado para construir a obra inovadora.

Todo gênio é uma fonte mais caudalosa do que o líquido que dela jorra. É forte, sensível e capaz de sutilezas como uma bolha que flutua no ar. É sábio sem ser enfático, assertivo e, por isso, deve desprezar “a suavidade do arame farpado” dos gênios geniosos.

No pensamento do gênio, há sempre uma surpresa e ele se define como tal pelo primeiro olhar que dedica a qualquer objeto.

Sob qualquer olhar, a unanimidade inteligente dirá a uma só voz sobre Steve Jobs: gênio, gênio, gênio.

Gênio no campo mais arriscado da atividade econômica: o empreendedorismo inovador.

Gênio porque o empreendedor, a despeito de empresário e investidor, foi muito além da equação econômica reducionista e embarcou, assumindo todos os riscos, no sonho, na fantasia, na visão premonitória do futuro.

Gênio porque praticou a mais ousada proposta do sistema capitalista, popularizada por Joseph Schumpeter, que é a “destruição criadora”.

De fato, sem medo dos castigos, Jobs mordeu a maçã, fruto proibido da árvore do conhecimento e redefiniu os padrões da era digital ao aproximar a tecnologia do homem.

Aproximação que chegou pelo caminho da simplicidade no manuseio de artefatos que assustavam os seres da era analógica; aproximação que se consumou pelo aumento da produtividade e do conforto dos usuários de suas criações, dentro de padrões esteticamente perfeitos.

Design, dizia ele, não é forma; é função.

Na medida em que encarava o sentido da vida, buscou utilidade para seus inventos.

Por isto, certamente, soube enfrentar a sentença condenatória de sua própria vida.

Com o iPod, possibilitou o consumo universal da música; com o iPhone permitiu que as pessoas e as informações/comunicações andassem de mãos dadas; com a maravilha do iPad desmistificou, de vez, o acesso ao mundo digital: logo depois de aprender a andar e falar, a criança pequena pode brincar cutucando um iPad.

O mundo inteiro lamenta e vai continuar, indefinidamente, lamentando a morte de Jobs; o mundo inteiro vai falar e escrever sobre a vida do homem e a obra do gênio; o mundo inteiro vai usar e tirar proveito do seu incomensurável legado, como ocorre em relação ao legado das criaturas iluminadas pela genialidade.

Jobs não será esquecido pelo que fez.

E que não seja esquecido, também, pela profunda e sábia lição que deixou paraa posteridade ao encerrar o seu discurso para uma turma de formandos da Universidade de Stanford: “Continue faminto, continue tolo”. *Administrador de empresa