Por Gustavo Krause, especial para o Blog de Jamildo Estes assuntos foram tratados nas edições do JC de 01 e 02 de outubro do corrente ano.

Com efeito, as matérias tratam de temas diversos não fosse um ponto em comum: o imperdoável descaso pela vida do cidadão brasileiro.

No caso das motos, faz quase uma década, ouvi de renomado ortopedista trágica profecia sobre a escalada dos acidentes de moto: será, disse ele, em pouco tempo, o maior problema de saúde pública com graves efeitos sobre as famílias dos pacientes e sobre a sociedade que perderá um número expressivo de pessoas jovens no esplendor da vida e da produtividade profissional.

E complementava sua profecia com dados concretos: as ocorrências atingem, majoritariamente, pessoas com faixa etária entre os dezoito e trinta e cinco anos; deixa seqüelas gravíssimas nos sobreviventes sem contar com as dores profundas pelas perdas irreparáveis de tão preciosas vidas.

Somam-se, pois, gastos crescentes com a saúde e custos emocionais devastadores.

A cada dia, este cenário, se tornava mais nítido, menos para o olhar das autoridades.

O apelo ao consumo e às supostas vantagens para o adquirente frente ao ineficiente sistema de transporte público inundou de motos as cidades, das capitais ao mais recôndito município brasileiro.

Os resultados são assustadores: em 15 anos a mortalidade cresceu nove vezes; em 2010, foram registradas, no Brasil, 145.000 vítimas.

Em Pernambuco, 602 motoqueiros morreram (ano 2010) num total de 3.200, com um custo hospitalar de 154 mil reais e um custo total, per capita, de 954 mil reais, levados em consideração dez itens de gastos, segundo cálculos do IPEA.

O governo de Pernambuco lançou uma política de prevenção no dia trinta de setembro do ano em curso.

Antes tarde do que nunca.

O desafio é enfrentar o desatino de 650 mil motos trafegando, hoje, contra 119 mil em no ano 2000.

O mal está feito e o esforço, queira Deus, é evitar o pior.

Sobre segurança, o JC traz ampla e consistente matéria: “Canoas da lição de segurança”.

O inusitado está na efetiva e eficiente participação da prefeitura e da comunidade local na concepção e gestão da política de segurança em parceria com os governos estadual e federal.

A propósito, este protagonismo do poder e comunidades locais na questão da segurança explicita a nossa condição de país retardatário em relação às experiências internacionais.

Exemplos bem-sucedidos ocorrem em países do chamado terceiro mundo (Bogotá, Medellin, Cali, Quito, El Salvador) e numa extensa lista de países ricos, entre eles: Austrália, Bélgica, Canadá, França, Inglaterra, Holanda, Alemanha, Suécia, Nova Zelândia, Estados Unidos, sociedades que incorporaram ao conceito de segurança humana (ONU, 1994), a segurança cidadã com enfoque na pessoa que é o personagem central do desenvolvimento humano.

De modo geral, os governantes sempre tangenciaram a questão da segurança.

Não dá voto e prejudica a imagem, alertavam, equivocadamente, conselheiros políticos, marqueteiros de plantão, sem falar numa consciência ideológica assustada com os limites do monopólio da força que confere ao ente político, Estado, e somente a ele, o exercício da coação em benefício da paz social.

Por fim, a matéria, “Joelho, o grande vilão”, demonstra que o descaso, o desrespeito, a agressão à saúde, à integridade e à vida do cidadão tomam conta de uma das paixões nacionais, o futebol, fora (o torcedor) e dentro das quatro linhas (o atleta).

Segundo o médico ortopedista, Romeu Krause, ouvido pela reportagem, com quatro décadas de experiência e cerca de 3500 cirurgias ligamentares realizadas, o expressivo aumento deste tipo de lesão em jogadores de futebol se deve a campos impraticáveis e calendários desumanos.

Esta é a obra lamentável de significativa parcela de cartolas irresponsáveis e dirigentes incompetentes que nunca deram um chute numa bola ou levaram um toco merecido.

Perdão, eles sabem o que é “bola” e “toco”, entre aspas e longe do que deveria ser um “tapete verde”.