No Estadão A presidente Dilma Rousseff desembarcou ontem na Bulgária com status de líder de superpotência, com direito a um batalhão de mais de 150 jornalistas credenciados para sua visita e até com o poder de suspender a campanha eleitoral no país.

Mas, se o discurso é de promessas de aproximação com a terra de seu pai, a delegação brasileira admite nos bastidores que a corrupção na Bulgária é um obstáculo para a cooperação e uma saia-justa para a presidente.

O Partido Socialista búlgaro foi acusado de usar recursos da União Europeia para financiar sua campanha eleitoral há alguns anos.

O resultado foi a suspensão do repasse de dinheiro para o país, o mais pobre do bloco, algo inédito na UE.

O novo governo, da direita populista, não ficou isento dos escândalos e o país até hoje é considerado o mais problemático no bloco.

Ao tentar encontrar área de cooperação para propor aos búlgaros, o Brasil esbarrou justamente no fato de que transferir dinheiro para a Bulgária não é sinônimo de resultados.

Uma das opções em estudo é fazer uma cooperação triangular, emprestando o know-how brasileiro em várias áreas públicas, mas insistindo em que o financiamento venha de Bruxelas.

Outra ideia é ajudar os búlgaros a desenvolver projetos que possam evitar o desvio de recursos.

Na prática, Dilma poria em sua política externa parte da imagem que já quer passar internamente e lhe vem garantindo certa popularidade.

O fato de o governo Dilma já ter perdido ministros por causa dos escândalos de corrupção não foi ignorado pela imprensa local.

Na BTV, principal rede de televisão privada, a âncora Anna Tsolova deixou claro que o que “une Brasil e Bulgária” também inclui a questão da corrupção.

Conteúdo.

Na delegação brasileira, o esforço todo é ainda o de colocar conteúdo na visita.

Os búlgaros vêm repetindo com insistência que o Brasil seria a salvação para sua economia em recessão, com uma sociedade empobrecida e sem perspectivas de expansão econômica.

Mas, apesar da vontade política por parte do Brasil, a dificuldade é encontrar quem esteja interessado em fechar negócios numa relação com fluxo comercial insignificante, de apenas US$ 113 milhões.

Ontem, o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, admitia que o aumento no volume de comércio não ocorrerá “de um dia para o outro”.

Alguns dos presidentes de empresas que estarão na Bulgária tentaram driblar a viagem, enviando diretores.

Mas foram convocados pessoalmente por Dilma para se deslocar até Sófia.

O acordo comercial que será fechado hoje, ainda que sem conteúdo concreto, na realidade já estava sendo negociado mesmo antes da eleição de Dilma.

Sófia ainda insiste em anunciar o interesse da Embraer pelo país, para onde foram vendidos quatro jatos, como se fosse produto da aproximação bilateral.

Mas a empresa brasileira nem sequer vendeu os aviões diretamente para a Bulgária.

Uma empresa americana os comprou e fechou um contrato de leasing com Sófia.