Foto: Jarbas Jr/JC Imagem Por Fernando Castilho, do JC Negócios Eduardo Guennes saiu do Recife, mas o Recife nunca saiu dele.

A frase usada na maioria dos vezes como depreciativa em Duda significava o bom amor provinciano.

Desses que a gente nunca para de ter saudades do lugar de origem.

Não se sabe se como na poesia de Drummond, a foto do Recife na parede doia em Guennes.

Mas ela a cantava muito.

Ou como diria o poeta: Na Lisboa, que adotou como pátria, o Recife dentro dele foi se fazendo estrada.

E ele a percorria muito.

Duda Guennes nasceu, cresceu e se tornou jornalista no Jornal do Commercio sem deixar de exercer o jeito crítico, sarcástico, cortante e até moleque que se lia nos seus textos.

Falava de futebol para sobreviver como jornalista, mas falava das cidades.

Sua irreverência às vezes lhe rendia situações embaraçosas.

Como a de uma entrevista, ao vivo, na inauguração do maior shopping-center de Portugal pertencente ao mesmo grupo empresarial de controla o jornal A Bola e sua rede de TV, onde ao ser perguntado o que achava do projeto disse que “o shopping era uma coisa maravilhosa e que tinha tudo o que não precisava”.

Ou da repreensão, aqui no Recife, numa igreja das Graças onde ao ser convidado pelo vigário para ao lado do colega Francisco Bandeira de Melo entrar para a missa dispensou a oração dizendo que não tinha interesse pois estava ali “apenas cubando o mulherio”.

O que levou o padre a expulsa-lo até da calçada.

E da visita a uma catedral em Lisboa onde perguntou à recepcionista o que achava do “belissímo garlindéu” que se prendia do alto e que diante da surpresa da moça lhe explicou: " Senhora, o garlindéu é o que liga esta peça às adriças" para total incompreensão da jovem.

Mas era sobre os sabores do Recife que Duda Guennes mais trabalhava em Lisboa.

Foi dele a ideia de se documentasse as receitas de cozinha pernambucana em livros e edições especiais para evitar dia que certo dia a Bahia reinvidicasse a paternidade pelo bolo Souza Leão, o do bolo de Rolo.

Ou que algum outro estado começasse a falar de “bate-bate de maracujá”, (como aqui se chama a mistura de cachaça com suco de fruta) como um coisa sua.

Ou que o ceramelo Nego Bom (o doce de açúcar mascavo e mel) fosse identificado como de um outro estado do Nordeste.

Radical, advertiu a todos os governadores com que conversou sobre esse risco.

E se hoje a culinária de Pernambuco está documentada em dezenas de livros, isso se deve a iniciativa de Duda Guennes. É por isso e disso que o Recife vai sentir falta desse lisboeta pernmabucano que nos deixou hoje.

Duda era tão pernambucano, tão recifense, que mesmo em Lisboa quando a gente chegava perto dele sentia o cheiro do vento da praia de Boa Viagem.