Por Flavia Marreiro e Leila Coimba, na Folha de S.

Paulo O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse ontem estar “convencido” de que “setores ou atores” da Petrobras são contrários a fechar a parceria com a PDVSA para construir a refinaria Abreu e Lima em Pernambuco, um projeto de R$ 26 bilhões que ele classificou de “ovelha negra” das relações bilaterais.

Chávez acusou a estatal brasileira de “sacar cartas da manga de repetente” e de haver recuado de um suposto acordo fechado com a PDVSA para oficializar a sociedade na refinaria.

Em telefonema no dia 9, o venezuelano relatou à presidente Dilma Rousseff “o desfecho positivo” da negociação que se arrasta desde 2008 -a Presidência brasileira comemorou em nota, citando o próprio Chávez.

Dias depois, porém, a Petrobras disse que a negociação ainda estava em curso. “Para mim, é inexplicável”, disse Chávez, em entrevista coletiva transmitida pela TV. ‘CARTAS NA MANGA’ “Na Petrobras há setores ou atores que não querem o acordo.

Estou convencido.

Quando não é uma coisa é outra ou é outra.

Tiram cartas da manga. É a Petrobras, não é governo Dilma”, afirmou o venezuelano.

Para participar oficialmente da refinaria, a PDVSA tem de apresentar garantias bancárias para assumir parte do empréstimo de US$ 10 bilhões contraído pela Petrobras com o BNDES.

Segundo Chávez, a petroleira venezuelana ofereceu garantias ao banco português Espírito Santo, que teriam sido aceitas, logo depois rejeitadas pela contraparte brasileira -ele não precisou se pela Petrobras ou pelo BNDES.

Ontem, o banco brasileiro afirmou que recebeu as garantias apresentadas pela PDVSA -o prazo para entregá-las, segundo um termo assinado pelas estatais, terminava hoje- e que no momento a proposta está sob avaliação.

A Petrobras, por sua vez, disse que esperaria o pronunciamento do BNDES. “Dizem que a Venezuela não quer pagar.

Se é dinheiro, temos na mão! […] Essa não é a verdade.

Por diferentes razões, que temos de respeitar, não aceitam as garantias.

Que vamos fazer?”, afirmou o presidente Chávez. “Tomara que isso possa se solucionar.

Mas não é possível, deixemos de lado.

Há temas mais importantes”, afirmou o presidente, para quem o projeto da refinaria é uma “pedra no sapato”.

A Petrobras já construiu sozinha 40% do projeto, que teve acordo inicial fechado em 2005, antes da descoberta do pré-sal, em 2006.

O acordo previa a utilização de petróleo venezuelano, pesado demais para se transformado em combustível com a matéria-prima brasileira, de melhor qualidade.

Com isso, a sociedade passou de estratégica para negativa para a estatal brasileira.