Censura rechaçada O eterno retorno do tema é proporcional ao volume de denúncias que caem sobre o governo em determinado momento.

Com a oportunidade de um congresso partidário após oito meses tumultuados da gestão Dilma, que tem buscado administrar as crises com a retórica da faxina, o Partido dos Trabalhadores aproveitou a chance para transformar, novamente, a sua reunião anual em um rosário de queixas contra a imprensa.

No fundo, o projeto do ex-ministro Franklin Martins, que sintetizava a inclinação pela informação tutelada, volta e meia ressurge, no debate enfadonho sobre o seu suposto “controle social”.

Há que se ter cuidado com os eufemismos: onde se diz controle social, muitas vezes resta escondido o pensamento rasteiro do controle político.

Por uma finalidade pragmática – como aliás tudo que responde ao pragmatismo político – qual seja, a de afastar as suspeitas que pairam sobre os aliados e os integrantes da cúpula partidária.

Ainda que usufruam do poder na sombra, como o acusado de chefiar a quadrilha do mensalão do governo Lula, José Dirceu, flagrado em encontros secretos com senadores e membros do governo Dilma em um hotel em Brasília.

Graças à pressão gerada pela repercussão negativa que traria uma resolução institucional do partido em prol da censura, o assunto foi encerrado como uma mera “moção”.

Ou seja, ao primeiro sinal de turbulência, quando as forças misteriosas que dominam a imprensa brasileira se manifestarem através de manchetes e gravações mal intencionadas contra os paladinos do PT e dos partidos que apoiam o governo, a moção pelo fim da liberdade de informação volta à baila.

Como válvula de escape preferida dos governos autoritários, é de profundo pesar que o nosso País ainda conte com defensores explícitos da censura – e o pior, por parte de muitos que foram vítimas dela no passado.

A sorte dos cidadãos que prezam por seu direito básico de se informar através de fontes variadas, como deve acontecer numa democracia, é que a presidente Dilma não parece disposta a acatar essa diretriz partidária, abraçada pelo alto escalão do governo, como o ministro Gilberto Carvalho e a ministra Ideli Salvati.

Por outro lado, vozes da oposição, entidades representativas da sociedade e até políticos da base governista se manifestaram em defesa da liberdade de imprensa.

Como o presidente do PP, Francisco Dornelles, que chamou a disposição escrita pelo congresso petista de stalinista.

E o governador Eduardo Campos, presidente do PSB, em uma intervenção sensata, ao declarar que melhor do que propor regulamentações cerceadoras seria dar consciência à sociedade, melhorando a educação e a inclusão para que o cidadão faça o controle que lhe cabe.

Em favor de nomes investigados pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, a moção do PT para colocar rédeas na mídia soa novamente esquisita e deve ser rechaçada pela sociedade.

O que se espera é uma atitude mais séria do partido governista diante das denúncias de corrupção que maculam a sua história e conturbam, com indesejada frequência, o cotidiano nacional.