Fotos: Clemilson Campos/JC Imagem Por Daniel Guedes ARAÇOIABA - A falta que fazem os R$ 7 milhões que podem ter sido desviados pela Prefeitura de Araçoiaba é visível.

Numa rápida caminhada pela cidade localizada a 38 quilômetros do Recife, já é possível observar miséria, desemprego, esgoto a céu aberto, lixo espalhado e ruas sem asfalto.

Mas o que se vê ao entrar em escolas e principalmente no Hospital Municipal de Araçoiaba é ainda mais deprimente.

O Blog de Jamildo e o Jornal do Commercio estiveram na cidade da manhã desta terça-feira (13) e constataram o que está deixando de ser feito com o dinheiro que simplesmente sumiu dos cofres públicos.

Na Escola Municipal Amaro Soares, onde estudam 586 alunos do ensino fundamental ao 5º ano, a diretora Luciana de Santana Alves conta que precisou usar recursos de pequenos reparos para acabar a reforma de duas salas de aula.

Isso porque a empresa responsável pela obra simplesmente abandonou o canteiro.

Compramos duas mil telhas, tinta, ventiladores e pagamos pela parte elétrica e pelo reparo do piso", enumera serviços feitos com a verba do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE).

Ao cobrir um santo, descobriu outro. “Precisava equipar toda a cozinha, mas não consegui comprar armário, prateleiras e panelas novas”, lamenta. » VEJA A COBERTURA COMPLETA DOS DESMANDOS EM ARAÇOIABA Dentre as irregularidades no município apontadas por Polícia Federal (PF), Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e Controladoria-geral da União (CGU) está justamente o desvio de R$ 2,361 milhões de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e de outros R$ 1,3 milhão de recursos da educação.

Merenda também não é constante nas escolas municipais.

A denúncia é feita pelos próprios alunos que, apesar da pouca idade, entendem perfeitamente o que está acontecendo na cidade e se amontoam sobre a imprensa para fazer reclamações. “É pia quebrada. Às vezes, para ir ao banheiro, preciso vir em casa”, reclama Ruan, 13, aluno da 7ª série da Escola Municipal Senador Paulo Guerra.

A CGU indica que a Prefeitura gastou R$ 71 mil com metais para banheiros.

Nas unidades de ensino visitadas pela reportagem havia, no máximo, bacias sanitárias novas.

Não encontramos nenhuma torneira, nem mesmo pia.

PLANTÃO DESUMANO - A denúncia de atendimento precário nas unidades de saúde municipais não precisa ser procurada em postos de saúde.

No próprio Hospital Municipal de Araçoiaba a situação é, no mínimo, vexatória.

O médico que estava no momento que chegamos se recusou a nos atender.

Não abriu mão do horário de repouso.

Justo.

Afinal, dá plantão de 72 horas na unidade.

Lá só há mais um médico.

O que atende aos sábados.

Quintas, sextas e domingos são dias em que não há médico.

Se isso já não bastasse, ainda há problemas estruturais.

A sala de nebulização tem mofo nas paredes e o desfribrilador não funciona.

Das três ambulâncias, apenas duas funcionam. “Mas não adianta nada porque só há um motorista”, denuncia o vigilante do hospital. “Quando é uma emergência, precisamos chamar o Samu”.

Na unidade, faltam medicamentos básicos.

O remédio para controlar a pressão arterial não era suficiente para terminar o plantão.

Antes do fim da manhã já faltavam medicamentos para nebulização, bicarbonato de sódio e sedativo.

Por mais absurdo que pareça, a Prefeitura está jogando remédio fora.

No momento em que o Blog e o JC estavam no hospital, a ambulância que funcionava e tinha motorista chegou com quatro caixas que traziam, cada uma, 100 frascos de dipirona.

O material seria incinerado pois venceu em agosto.

O mesmo destino seria dado a 100 frascos de sulfametoxazol, utilizado para diarreia mas que, na cidade com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Região Metropolitana, seria jogado fora.