Por Sambé, especial para o Blog de Jamildo Passaram-se dez anos desde o atentado do 11 de setembro em Nova Iorque.

O que parecia uma tragédia anunciada me chocou quando assisti a segunda colisão em tempo real, numa vitrine de eletrodomésticos, nas ruas do bairro do Recife.

Depois de tanto “chororô”, os escombros estão se transformando num memorial em homenagem as vítimas.

Hoje cedo fazendo meu zapping frenético pelas informações de TV e internet, comecei a confabular uma nova teoria conspiracionista sobre o espírito americano.

No museu haverão fotos, vídeos e partes dos destroços das torres.

Depoimentos emocionados e no fundo de tudo a mágoa e a tristeza inesquecível do desastre.

Um simples “touch screen” e pronto qualquer um estará novamente vivenciando os horrores do maior atentado da história.

O meu medo é que os novos filhos dos filhos e netos dessa nação, permaneçam alimentando todo esse ódio que já sabemos, foi a causa de tudo e ainda é motivo de pânico e tensão nos dias de hoje.

O mesmo aço usado para erguer essa construção também fortalecerá a intolerância do mundo em seu processo acelerado de autodestruição.

De um lado estamos vendo a queda de grandes ditadores e do outro o caminhar da máxima natural da lei do mais forte.

O esmagamento humano e cultural de nações e povos desgarrados em terras estrangeiras, sempre será a pólvora para explodirmos em novos conflitos com os mesmos velhos motivos.

O que pensar disso tudo?

Que a grandeza geográfica do mundo continue nos protegendo e anulando nossa parte de responsabilidade?

Ou que somos um pequeno retalho de tudo que acontece ao nosso redor?

Intolerância e violência gratuita não é exclusividade americana nem islâmica.

Está acontecendo todo dia em todo lugar, seja no Oriente Médio, Nova Iorque, São Paulo, ou qualquer cidadezinha de interior.

Gays, negros, estrangeiros, pobres….

O que mais podemos odiar enquanto cultivamos esse orgulho desvalido e egocêntrico sobre os costumes e a cultura milenar dos outros povos.

Talvez a proporção histórica, cronológica e financeira das causas que envolvem estes países, os tenham feito chegar às vias de fato.

Pra mim toda guerra é estúpida e não há razão que a justifique.

Sempre haverá um líder lunático promovendo catástrofes e mortes mundo afora.

Sempre haverá diferença entre os povos, entre as pessoas, entre as famílias.

Na diferença reside nossa maior riqueza, o conhecimento, a diversidade e a troca.

Aprender com isso pode nos levar a outro patamar social e animal na escala evolutiva.

Talvez ainda esteja por vir nosso apocalipse tropical.

Mas não acredito nisso pra nós!

Acho que o nosso suingue nos reserva tantos prazeres que nunca vamos nos dispor a tais medidas.

Somos o país do samba, do futebol, do MMA (mix marcial arts)!

Somos o Brasil “bundalelê” conhecido do mundo inteiro.

E temos nossa guerra diária contra a injustiça social, nossos problemas de natalidade, de educação, má distribuição de renda entre tantos já conhecidos.

Acho estranho e mórbido pensar que essas lembranças estarão confortavelmente dispostas para visitação do grande público, no melhor modelo americano, ganhando dinheiro com isso.

Que nossas mazelas nunca sejam expostas num museu construído no coração de nosso país.

E que nossos problemas não sejam também eternos como os dos nossos vizinhos.

Nesse caso a grama mais verde é a nossa.

Rio de janeiro 10 de setembro de 2011.

Sambê, cantor, compositor, pensador periférico, pernambucano flutuante em terras fluminenses.