Por Luiza Freitas, no site da UFPE Como resultado da associação entre os termos “pobreza” e “violência”, a comunidade do Coque, na Ilha de Joana Bezerra, é uma das localidades mais estigmatizadas do Recife.
O peso do rótulo carregado pelos moradores chamou a atenção da pedagoga Simone Patrícia da Silva e foi o tema de sua dissertação “A violência e a escola: produções discursivas de pais e alunos da comunidade do Coque”.
O trabalho apresenta diferenças na forma com que jovens estudantes e seus pais identificam esse problema e a forma como ele circula no ambiente escolar.
Como resultado, ela percebeu que os filhos entendem a violência de forma mais ampla, em seu aspecto simbólico, verbal e psicológico, enquanto os pais a compreendem apenas como agressão física.
Em sua pesquisa, realizada no Programa de Pós-Graduação em Psicologia e orientada pelo professor Pedro de Oliveira Filho, Simone entrevistou onze jovens entre 14 e 17 anos e oito pais de 26 a 72 anos, que moram há pelo menos um ano no Coque.
Uma razão para a mudança de postura entre as gerações é que muitos dos jovens entrevistados participam de projetos sociais, como o Núcleo Educacional Irmãos Menores de Francisco de Assis (Neimfa), que fornece orientações educacionais, de cidadania e direitos humanos.
Dessa forma, os alunos passaram a desenvolver um discurso de auto-afirmação enquanto moradores da comunidade, combatendo o estigma de marginalizados e criminosos.
Por outro lado, a força da associação entre pobreza e violência, que ainda é disseminada pela sociedade, principalmente através da mídia, faz com que alguns moradores apenas a transfiram para outras localidades.
A ação se dá no sentido de defender a comunidade onde vivem, mas sem uma reflexão aprofundada dos outros fatores que geram essa violência. “Eles não aceitam que o bairro deles é violento, mas transferem a categorização para outros bairros populares.
Vão dizer, por exemplo, que Santo Amaro é mais violento”, explica Simone.
A pesquisadora também chama atenção para a visão negativa de professores de fora da comunidade, contribuindo para a perpetuação do estigma atrelado ao bairro.
Outra consequência da reprodução desse discurso dentro do ambiente escolar surge na forma com que os alunos do Coque são tratados por esses professores, que muitas vezes já os veem como criminosos.
Sobre a conduta dos professores, também há divergência entre as opiniões de pais e filhos.
Enquanto os alunos não aceitam atitudes autoritárias dos educadores, identificando-as como formas simbólicas de violência, os pais costumam defender o posicionamento dos professores, já que eles ainda são vistos como detentores do poder dentro da sala de aula.
Simone sugere, por fim, que deve haver um preparo eficiente, ainda na graduação, para os professores, no sentido de combater esses estigmas e promover o resgate da autoestima dos moradores de comunidades pobres e a reflexão aprofundada sobre os elementos geradores da violência.
Enquanto o Estado não exerce esse papel através da educação, as ongs e igrejas começam a levar às novas gerações do Coque uma forma de compreender a comunidade onde vivem.