Por Sérgio Montenegro Filho, no Jornal do Commercio No dia em que se completaram 31 anos da sua recusa em celebrar uma missa pela independência do Brasil, o padre italiano Vito Miracapillo deflagrou o round final da luta pelo restabelecimento do seu visto de permanência no País.

Ontem à tarde, os advogados Pedro Eurico, Albézio Farias e Felipe Farias - nomeados pelo religioso - deram entrada na Polícia Federal em um requerimento nesse sentido.

De acordo com o delegado regional executivo da PF, Renato Cesarini, a solicitação será encaminhada ainda hoje ao Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça, em Brasília.

Vito Miracapillo foi expulso do Brasil pelo regime militar, em 1980, após recusar um pedido da Prefeitura de Ribeirão - município da Mata Sul do Estado, onde era pároco - para que celebrasse a Missa da Independência, no dia 7 de setembro. “Sob ditadura, não há independência”, argumentou, na época.

A pedido do então deputado estadual Severino Cavalcanti (PDS), que o classificou como “subversivo”, o religioso foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional e no Estatuto do Estrangeiro - promulgado poucos dias antes da sua declaração – e terminou expulso por um decreto assinado no dia 15 de outubro de 1980 pelo presidente João Figueiredo.

Com a redemocratização, Miracapillo - que desde então mora em Andria, e atua como pároco da Diocese de Bari, na Itália - passou a tentar reaver seu visto de permanência.

Em fevereiro de 1993, o presidente Itamar Franco revogou o decreto de expulsão e o padre pôde retornar ao Brasil, mas apenas com visto de turista, de três meses de permanência.

Ele esteve algumas vezes no País, sempre em períodos curtos.

Em 2005, chegou a celebrar uma missa em Ribeirão, mas teve que ir embora logo depois.

Em novembro de 2002, o religioso enviou uma carta a Lula, então presidente eleito, pedindo o restabelecimento do visto, mas ficou sem resposta.

Durante sua última visita a Pernambuco, em julho deste ano, Miracapillo constituiu advogados para uma investida definitiva, disposto a levar o caso até os tribunais superiores, se necessário. “Queremos que o Estado Brasileiro reconheça a ilegalidade que está sendo praticada contra o padre, que mesmo já tendo sua expulsão revogada desde 1993, não consegue reaver o visto”, afirmou o ex-deputado Pedro Eurico, que no processo de expulsão atuou como defensor de Miracapillo e hoje advoga novamente em seu favor. “Como o governo brasileiro concede residência a um ex-terrorista como Cesare Battisti, procurado pela Interpol, condenado pelo governo italiano por quatro homicídios, subversão e participação em grupos armados, e nega o visto a um religioso?”, questionou Eurico, acrescentando que o próprio Poder Executivo - representado pelo ex-presidente Itamar Franco - entendeu que a expulsão foi “exacerbada e violenta” e a revogou. “A intenção de Miracapillo é apenas restabelecer o seu direito de residência no Brasil, voltar a morar em Ribeirão e retomar o trabalho pastoral na Mata Sul”, concluiu.

O JC não conseguiu ontem entrar em contato com o ex-deputado e atual prefeito Severino Cavalcanti, que se recupera de uma cirurgia para renovação do marca-passo.

No entanto, seu filho, o deputado estadual José Maurício (PP), garantiu que o pai considera a questão uma página virada. “A democracia está aí para permitir a convivência dos contrários”, resumiu.