Por Fernando Gabeira, em seu blog Muita gente ligada ao governo condena a campanha contra a corrupção.

Para alguns, ela é secundária, diante das tarefas de conduzir o Brasil a um novo patamar econômico e social.

Para outros, ela é antiquada e reproduz os cacoetes da velha UDN, o partido que assombrou o governo Vargas com suas críticas.

No domingo, a Folha de São Paulo publica matéria afirmando que o Brasil, em sete anos, de 2002 a 2008, perdeu R$40 bilhões com a corrupção, o equivalente ao PIB da Bolívia.

São dados na mesa.

Você pode achar que não foram R$40 bilhões mas apenas R$35 ou que não perdemos toda a produção de uma Bolívia, mas apenas três quartos dela.

De qualquer maneira, perdemos e perdemos muito.

Como explicar então a resistência a aceitar a importância da luta contra a corrupção?

Ela não representa apenas um grão de areia na engrenagem, como querem os resistentes.

Ela representa o próprio combustível da engrenagem, tocada pelo chamado presidencialismo de coalizão.

A única razão visível para conciliar com a corrupção é o apego ao poder, a vontade de continuar do governo de todas as maneiras.

Recusar a importância ou mesmo a atualidade da luta contra a repressão é algo tão espantoso como ignorar a Bolívia no mapa da América do Sul.

Outra maneira de encarar o problema: se a corrupção fosse tão importante, as pessoas estariam protestando na rua.

Mas essa é apenas uma etapa madura do protesto.

Nas redes sociais o fermento da insatisfação com o mundo político já está em atividade há muito tempo.

Esta será uma questão decisiva para dividir os campos.

Dentro da esquerda, partidos como o PSOL e mesmo o PPS têm se manifestado suas criticas à corrupção.

Portanto, não é intrínseca à esquerda a tolerância com a corrupção. É uma reação de quem está no governo e não vê outra maneira de continuar nele.