Por Luciano Siqueira, especial para o Blog de Jamildo Dizer que existe hoje ameaça de recessão em nosso país é certamente um exagero.

Mas gato escaldado tem medo de água fria: líderes sindicais condenam as medidas de contenção de gastos anunciadas pelo governo, na última segunda-feira, entendendo que podem reforçar uma pressão externa pela desaceleração da economia.

As medidas estão “na contramão do que as centrais desejavam e o país precisa”, sentencia o metroviário Wagner Gomes, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).

Isto porque a elevação do superávit primário (a economia que o setor público - União, estados, municípios e empresas estatais – realiza para pagar os juros da dívida interna - reduz a capacidade de investimento produtivo, além de subtrair despesas essenciais com saúde, educação, funcionalismo, melhoria dos serviços e outros benefícios concedidos à população.

Em contraponto, o governo sinaliza com uma redução da taxa real de juros, porém as contrapressões do setor rentista não autorizam nenhum otimismo nessa matéria.

Em números redondos, a meta de superávit será elevada de R$ 117,9 bilhões para R$ 127,7 bilhões, notadamente no governo federal, cuja economia sobe de R$ 81 bilhões para R$ 91 bilhões.

Não é uma conta pequena.

Contando os sete meses do exercício em curso, o superávit primário do setor público consolidado chegou a R$ 91,979 bilhões, contra R$ 43,588 bilhões registrados de janeiro a julho de 2010.

Isto significa nada menos que 78% da meta para este ano, R$ 117,9 bilhões, assim distribuídos: o superávit da União foi de R$ 66,307 bilhões; o dos governos estaduais R$ 21,711 bilhões e o dos municipais R$ 2,050 bilhões.

Já as empresas estatais consignaram R$ 1,911 bilhão.

A divergência entre sindicalistas e governo é parte de uma quebra de braços que tem lugar também no próprio interior do governo, desde os dois mandatos consecutivos do presidente Lula, envolvendo monetaristas versus desenvolvimentistas.

A então ministra Dilma sempre esteve nas fileiras dos desenvolvimentistas.

E este é um debate que precisa ganhar mais expressão na sociedade.

O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) contribui nesse sentido com uma Nota Técnica cujo teor também se choca com as medidas atuais do governo.

Sugere a expansão dos gastos públicos e do crédito para contornar os impactos recessivos da crise global.

Ou seja: continuar apostando em nossas potencialidades internas, opção feita por Lula quando eclodiu a atual crise já em 2008.

Lula defendeu a economia nacional com a redução do superávit primário, desoneração fiscal para o setor produtivo e ampliação do crédito, continuidade e ampliação dos investimentos públicos em infraestrutura.

Assim, não se trata apenas de nos prevenir contra pressões externas recessivas.

Trata-se, sobretudo, de darmos continuidade ao ciclo de crescimento econômico em curso.

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