Por Fernando Gabeira, em seu blog Nesses minutos de espera para a viagem de volta ao Brasil, não posso deixar de expressar minha tristeza com o resultado da votação de ontem na Câmara: por 265 votos a 166, a deputada Jaqueline Roriz foi absolvida.

Acusada de corrupção, com um vídeo mostrando como recebeu o dinheiro, Roriz foi absolvida pelos deputados com o argumento de que isso se passou antes de seu mandato federal.

A causa dessa decisão é a cumplicidade entre deputados.

Mas a cumplicidade só se manifesta porque o voto é fechado.

Em 2006 aprovamos, em primeiro turno, o voto aberto para a cassação de deputados.

O segundo turno jamais foi votado.

Quando se aprovou pela primeira vez o voto aberto , havia uma pressão social e presença muito forte da imprensa.

Alguns jornais dizem que isso se deu na esteira do mensalão.

Mas o que realmente impulsionou a decisão foi o caso dos sanguessugas, deputados e empresas que negociavam ambulâncias superfaturadas.

Por que não se votou jamais o segundo turno?

Porque se formou uma coalizão poderosa, cimentada pelo próprio governo.

Uma das condições para se obter a simpatia dos deputados é, precisamente, a tolerância com casos de corrupção.

O deputado Carlos Sampaio(PSDB-SP), relator do processo, disse que vai pedir ao presidente Marco Maia para recolocar o voto aberto na pauta.

Maia dirá que sim, que vai estudar o assunto.

No entanto, nada sairá.

A minoria na Câmara só avança empurrada pela imprensa e com apoio da sociedade.

Imaginem que na primeira votação, o voto aberto ganhou por unanimidade, com apenas duas abstenções.

Como explicar isso? É que para votar a matéria o processo era de voto aberto.

Ninguém queria aparecer bloqueando esta decisão essencial.

A foto do líder do governo Cândido Vaccareza cumprimentando Jaqueline Roriz não é acidental.

Não sabemos como ele votou.

Mas o afago serve apenas para reforçar a ideia de que o governo concorda com o processo escolhido pelos deputados que é o de tolerância máxima .

Com voto fechado, os deputados absolvem até Hitler.

Cassação ali é um tabu.

Só em caso extremo, para salvar a pele de todos. » Leia mais: Deputados absolvem Jaqueline Roriz