Por Manuela Modesto Dantas, especial para o Blog de Jamildo Permitam-me continuar iniciando essa coluna com trechos de músicas de Chico Buarque, afinal ele, mesmo sem saber, ajudou a construir a “minha história” e foi assim também durante a minha recuperação do acidente.

Foram incontáveis os dias internada nos hospitais Memorial São José (2 meses) e Albert Einstein (6 meses), aonde compreendi, a despeito dos longos dias de estudo na UFPE, que tudo realmente é relativo…Internada naqueles Centros de Excelência Médicas, cada segundo parecia uma eternidade e o tédio e a monotonia dominavam o meu espírito andarilho.

Dormia todas as noites esperando que na manhã seguinte nada fosse como antes, porém a frustração ao acordar e verificar que nada tinha mudado se apoderava lentamente da minha alma inquieta e ansiosa.

A frase de Chico não saia da minha cabeça “Amanhã vai ser outro dia”, até que num lampejo de iluminação divina, o físico Albert Einstein se associou ao mestre Chico Buarque e finalmente entendi que o amanhã não era o dia seguinte e sim um ponto indeterminado no futuro.

Mas como poderia uma humilde engenheira entender os mistérios das ciências médicas e neurológicas, que nem os mais renomados médicos entendem completamente?

Entender que tudo tem seu tempo?

Eu preferi construir as minhas estradas no hoje e lutar pela minha recuperação e para ganhar um mínimo de independência, que me garantisse realizar a simples atividade de ficar sentada, sem precisar de um apoio externo, como também realizar dezenas de outras atividades diárias, facílimas para mim no passado, mas que se tornaram inexplicavelmente complicadas após o acidente.

Lembrei das palavras de Chico Xavier. “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo; Qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.” Foi assim que decidi que não ia esperar sentada pelo dia em que voltaria a correr incessantemente em busca dos meus sonhos.

Deste modo precisava avançar na minha recuperação, pois queria voltar para Recife, queria voltar a trabalhar, queria voltar a ter uma vida fora das paredes brancas dos hospitais.

Oxalá, se o amanhã não fosse tão distante…

As melhoras vieram e foi assim que, seis meses após o meu acidente, pude ficar em pé sem auxílio de fisioterapeutas, mas apenas com o apoio de uma órtese.

Seria o fato de ficar em pé uma façanha tão grande?

Sim…

Todas as conquistas até hoje foram conseguidas a custa de muito suor, amor, e ajuda de profissionais super habilitados em lesões neurológicas em um Centro de Reabilitação.

Aprendi que, ao contrário do que me foi ensinado nas aulas de biologia, os neurônios são capazes de se regenerar, muito mais lentamente do que as demais células do corpo, por ser a célula mais diferenciada que possuímos.

Aprendi também que dar uma forcinha para os meus neurônios favorece a minha recuperação.

Mas como ajudar o meu corpo?

Com muito esforço e com as ajudas necessárias de fisioterapeutas, fisiatras, nutricionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, enfim de uma equipe estruturada para ajudar pessoas como eu.

The Life is going on, era a frase de entrada no Centro de Reabilitação e era assim que eu encarava a minha luta individual, a vida continua…

Percebi que esse era o grande foco das minhas conquistas nesse Centro de Reabilitação.

Percebi que eu poderia voltar a ter uma vida normal com o desenvolvimento e treinamento do meu corpo e tendo as informações e orientações corretas para esse fim.

Porém, como lutar sozinha, se eu tinha milhares de colegas pernambucanos sem acesso a um Centro de Reabilitação, o qual foi fundamental para que eu estivesse em pé após 6 meses de acidente, como também me impulsionou para retornar ao trabalho após 8 meses da lesão medular?

Iniciei a pesquisar e descobri no IBGE que Pernambuco tem a quarta maior taxa de deficientes do País.

Temos mais de 1,34 milhões de deficientes!

Descobri também, através da Secretaria Estadual de Saúde, que temos na região metropolitana de Recife mais de 50.000 deficientes físicos e em Pernambuco mais de 500.000 deficientes físicos e me questionei: aonde estão essas pessoas, como são tratadas, como estão suas vidas?

Descobri que a maioria deles não são tratados e estão em suas casas, sem ter acesso a uma vida digna.

Por ventura, no meio dessa triste descoberta, veio a luz.

O Hospital IMIP, como sempre olhando pelos mais necessitados e oprimidos socialmente, estava iniciando a montagem de um Centro de Reabilitação em Recife.

No entanto, ainda faltam muitos recursos materiais em termos de equipamentos mais avançados e faltam, principalmente, recursos humanos e capacitação desses, pois o IMIP, que é 97% sustentado pelo SUS, não tinha recursos para fazê-lo, apesar de ter uma grande vontade e motivação dos seus integrantes.

Decidi então, assumir essa causa e essa missão.

E assim nasceu o Projeto “Novos Horizontes”, para transformar o Centro de Reabilitação do IMIP em um dos melhores centros de reabilitação do País e que possa devolver a esperança a milhares de pernambucanos especiais, que apesar de terem algumas limitações podem contribuir imensamente para o nosso estado e para o nosso País.

Findo o meu segundo artigo com a forte convicção de que prefiro acreditar em mim e desconfiar do destino…

Prefiro realizar do que sonhar…

Prefiro viver do que esperar…

Prefiro confiar do que desesperar…

Prefiro acreditar que a vida tem valor e como Chaplim prega: temos valor diante da vida!

Prefiro continuar acreditando nas pessoas como Rousseou fez ao escrever há 300 anos. “O homem é bom por natureza”.

Prefiro acreditar no amor ao próximo que Jesus pregou há quase 2000 anos atrás.

Prefiro acreditar em vocês…E pedir…Vamos participar desse projeto e ajudar a milhares de bravos guerreiros a contribuírem para tornar Pernambuco IMORTAL, IMORTAL…

PS: A ficha de participação pode ser encaminhada para o e-mail manuela.modesto@hotmail.com Nota do Blog - Quem é Manuela Dantas?

Manuela Dantas tem 32 anos e trabalha como engenheira civil, formada pela Universidade Federal de Pernambuco.

Em abril do ano passado, ela sofreu um grave acidente de trabalho.

O carro em que viajava para Salgueiro, nas obras da Transnordestina, capotou no interior do Ceará.

Teve politraumas, perfuração do pulmão, hemorragia interna e lesão raquimedular.

Tornou-se cadeirante desde então.

Poderia aposentar-se, pelas leis trabalhistas, mas não aceitou trilhar o caminho mais fácil.

Como nunca desistiu de lutar, agora também guerreia por uma vida com igualdade de condições para todos os deficientes físicos que enfrentam dificuldades diárias nas situações mais cotidianas.

A convite do Blog, Manuela escreve semanalmente, para falar de cidadania e louvar o milagre da vida, conversando conosco.