Por Angelo Castelo Branco* O racha provocado por dissidentes petistas rebelados contra os líderes da tendência “Construindo um Novo Brasil” remete a um episódio análogo e ainda recente da política pernambucana. É curioso, num instante como esse, em que o PT pernambucano se fragmenta e dificulta o seu desejado up grade no poder estadual, se constatar como é importante se conhecer os exemplos do passado para se tentar vislumbrar o futuro.
Na década de 90, quando o prefeito Jarbas Vasconcelos, já apartado completamente do ciclo de Miguel Arraes, aproximou-se dos figadais adversários da direita para consolidar uma nova etapa na cadeia do comando político estadual, dentro de uma estratégia pragmaticamente eficiente e que asseguraria a eles um mandato na prefeitura do Recife e mais dois no governo do estado, não faltaram vozes discordantes no extinto PFL.
Partido este que mal havia se firmado com a fama de possuir quadros experts no manejo do sistema público, e que contraditoriamente, começaria a perder substancia ao abraçar a tese que mais buscava para se livrar da pecha de agrupamento de direita remanescente do golpe militar de 1964.
A aliança e adesão aos projetos do PMDB de Jarbas Vasconcelos seriam, por assim dizer, o salto qualitativo com que tanto sonhavam os pefelistas.
Sepultariam ou cremariam a fama de discípulos da direita ortodoxa ou de bando de coronéis da economia cujos mandatos serviriam apenas para abrir portas de bancos estatais aos padrinhos ou aos seus próprios empreendimentos privados.
A história aguerrida do MDB dos anos 70 era o selo que o PFL precisava para apagar essa mancha e começar um novo e promissor tempo de cooptações.
Caberia a um prócer da direita, pouco afeito ao campo da política e que, segundo confessa, subiu ao pódio eleitoral por dois mandatos federais para defender a categoria dos usineiros na Constituinte de 1988, dar o alerta solitário.
Para o então pouco influente deputado Gilson Machado, a aliança que se estava construindo com o MDB naquele instante redundaria na pré-extinção do PFL porque os seus líderes teriam, a partir de então, de solicitar audiência para terem acesso ao palácio do governo.
A tese do parlamentar, numa entrevista curta e grossa em que abandonava a política depois de oito anos, admitia ser melhor perder uma ou duas eleições para ganhar na frente do que empurrar a sigla para a condição de coadjuvante.
O PFL morreu em março de 2007 e o seu sucedâneo Democratas ganhou um apelido pouco recomendável a uma região cuja mística repele as coisas do demo na mesma medida dos exorcismos medievais: “vade retro”.
O penúltimo movimento dissidente do PT pernambucano suscita temor semelhante.
Líder de um momento em que alia recursos tecnológicos a uma performance administrativa e política ascendente, inclusive no plano nacional, o governador Eduardo Campos num indisfarçável esmero, cuida da presidência de seu partido, o PSB, com fundadas convicções de um papel preponderante nas eleições de 2014.
A lhe estimular, não faltam conselheiros nem pesquisas.
A começar pelo ex-presidente Lula, sabe Deus com que propósitos.
Sair do plano municipal para ascender a um projeto de controle da máquina estadual torna-se, nesse cenário, um movimento difícil para o PT estacionado numa espécie de sublegenda recifense do PSB.
Além disso, a prudência com que a cúpula do PT vem analisando esse processo está aparentemente incomodando setores municipais, numa reação muito semelhante à das premonições sobre o PFL.
A influência do governador Eduardo Campos nas eleições municipais, notadamente para as disputas na região metropolitana do Recife que abriga maiores percentuais de votos do estado, é fato antecipadamente consumado.
Enquanto isso o PT se dissolve como se fosse asfalto de empreiteiras do governo sob a chuva e o sol inclementes de Pernambuco. (*) Angelo Castelo Branco é jornalista