Por Manuela Modesto Dantas, especial para o Blog de Jamildo Eu não poderia iniciar a minha coluna sem um toque inicial de Chico Buarque, meu mentor, como também não poderia esquecer a frase que meu pai repete há anos de Marcos Freire: “A vida é uma roda gigante, temos que ter a humildade sábia nas subidas e a dignidade paciente nas decidas de modo a mantermos o equilíbrio”.

Foi com essa diretriz que há 1 ano e 4 meses enfrento a grande virada que se deu em minha vida, quando em um acidente de trabalho fiquei paraplégica.

Não andar… É um mito para todos, mas não mais para mim.

Hoje entendo que minhas outras percepções sensitivas ficaram muito mais aguçadas…

Revolta, dor, tristeza?

Tudo isso se passou pela minha cabeça, mas, felizmente, não me derrubaram, ao contrário, percebi que eu tinha um longo caminho de lutas coletivas pela frente, afinal, todos os meus sonhos não poderiam ter caído em meio ao vão e eu continuaria a minha história de um modo diferente.

Pois bem, como repito sempre “No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim” sábio Fernando Sabino!

Ele me ensinou há anos essa máxima da filosofia brasileira, na qual acredito profundamente.

Esse sábio brasileiro me ensinou que o novo caminho traçado por mim desde o dia 07/04/10 (data do acidente) está longe de chegar ao final…

Visto que, nasci em Recife, sou Pernambucana e nossa região precisa avançar à velocidade de foguete para acompanhar as demandas necessárias para proporcionar o direito à acessibilidade de 17% da população pernambucana, a qual possui algum tipo de deficiência, segundo o IBGE.

Outrossim, como imaginar que quase 1/5 da população pernambucana possa viver excluída de andar nas ruas, de freqüentar parques, escolas, igrejas, de ir para o trabalho, de ter o direito básico a uma vida digna, tratamento igualitário e as mesmas condições de acesso a uma rotina minimamente normal?

Nessa estrada, meu primeiro choque com a realidade foi descobrir que Recife não tinha Centro de Reabilitação para adultos, o que é extremamente importante para o retorno desses cidadãos “deficientes” à sociedade.

Mas, o que é reabilitação?

A reabilitação é o processo destinado a restabelecer as funções de pessoas prejudicadas por doenças, acidentes ou outros eventos, propiciando seu retorno ao ambiente familiar, social e de trabalho.

Dessa forma, como imaginar o retorno dessas pessoas à sociedade, se não existia o local adequado para a reintegração das mesmas.

Fiquei pensando…

Será que o governo federal com a previdência lotada e custo altíssimo prefere pagar aposentadoria por invalidez a esses milhares de pessoas do que reabilitá-las para retornarem ao mercado de trabalho e contribuírem para o crescimento do Brasil?

Com certeza não, porém existem poucos representantes políticos que lembram e assumem essa causa como fundamental para o país.

Portanto, é em nome dos “deficientes”, ou melhor, dessas pessoas especiais que criei essa coluna em que vou relatar todas as dificuldades enfrentadas por nós, propor projetos e solicitar o apoio popular para a missão mais humana que vivi até agora: ajudar na inclusão de cidadãos especiais, “deficientes” fisicamente, mas com uma contribuição enorme a dar para o nosso país, para nosso estado e para a nossa cidade.

Não poderia terminar esse artigo sem citar parte do poema de Mário Quintana, que percebeu como ninguém o que representamos: “Deficiente” é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive.

Sendo assim, não me considero deficiente, pois nunca consegui ficar calada, imóvel e sem soltar um brado retumbante diante das omissões da sociedade e de suas injustiças e tenho a certeza que milhares de colegas meus bradam todos os dias por FRATERNIDADE, IGUALDADE, LIBERDADE E JUSTIÇA.

Nota do Blog - Quem é Manuela Dantas?

Manuela Dantas tem 32 anos e trabalha como engenheira civil, formada pela Universidade Federal de Pernambuco.

Em abril do ano passado, ela sofreu um grave acidente de trabalho.

O carro em que viajava para Salgueiro, nas obras da Transnordestina, capotou no interior do Ceará.

Teve politraumas, perfuração do pulmão, hemorragia interna e lesão raquimedular.

Tornou-se cadeirante desde então.

Poderia aposentar-se, pelas leis trabalhistas, mas não aceitou trilhar o caminho mais fácil.

Como nunca desistiu de lutar, agora também guerreia por uma vida com igualdade de condições para todos os deficientes físicos que enfrentam dificuldades diárias nas situações mais cotidianas.

A convite do Blog, Manuela escreverá semanalmente, para falar de cidadania e louvar o milagre da vida, conversando conosco.