Vida real ao Centro do Recife Por Priscila Krause O anúncio da desistência, por parte da Prefeitura do Recife, da realização de um carnaval fora de época no percurso por onde passou o Galo da Madrugada este ano – leia-se Avenida Dantas Barreto, no secular bairro de São José – movimentou o noticiário na semana que se findou.

Muitos apelidaram o projeto como o “retorno do Recifolia”, folia fora de época que teve seu auge em meados da década de 90 e despediu-se de vez por volta de 2002.

Particularmente, não me posicionaria contra a realização da festa, desde que não houvesse, além do apoio institucional da Secretaria de Turismo, sequer um tostão gasto com ajuda dos cofres municipais.

Como o evento ocorreria em área não-residencial, sem problema.

Também defenderia a inclusão obrigatória de artistas pernambucanos em meio aos sucessos baianos, cariocas, paulistas…brasileiros!

Mas o debate político em torno do Centro do Recife precisa ir muito mais além de festividades temporárias. É bem verdade que o secretário municipal de Turismo, André Campos, exerce ação louvável ao trazer de volta o Dançando na Rua ao abandonado Bairro do Recife.

O projeto foi criado na gestão do então prefeito Jarbas Vasconcelos (PMDB), continuado com sucesso pela gestão de Roberto Magalhães (DEM), e teve todos os seus esforços projetados em torno do renascimento do bairro irresponsavelmente esquecidos pelas administrações do ex-prefeito João Paulo (PT).

A tentativa de reanimar as noites culturais no Recife Antigo é, sem dúvidas, um mérito dos que hoje administram o Recife.

Petistas, também, parecem tentar correr atrás do prejuízo.

Antes tarde do que nunca.

O esforço pelo re-renascimento daquele Recife originário da grande metrópole onde vivemos hoje, o mais antigo dos Recife, no entanto, não passa só pela política do incentivo à cultura.

Nossos memoráveis “Santo Antônio”, “São José” e “Recife Antigo” precisam muito mais que apenas constar no roteiro cultural do município.

Muito mais.

A vida real precisa ser reinserida nesse espaço.

Casas, prédios, escritórios, lojas, consultórios, empresas, mercados, faculdades, livrarias.

Shows, bares, efervescência cultural também, lógico!

Numa cidade perdida em meio ao crescimento desordenado, onde o planejamento urbano é carta fora do baralho, por que não reorganizar nosso Centro?

Por que não reinventá-lo, reaproveitá-lo?

Se antes o resgate de bairros esquecidos tinha como exemplo apenas cidades estrangeiras, como o emblemático caso de Barcelona, na Espanha, é possível acompanharmos agora – desde sua fase embrionária – a implantação do projeto capitaneado pela Prefeitura do Rio de Janeiro no entorno do seu Porto urbano.

Se na belle époque carioca o espaço era o cenário que embelezava o nascimento da República, no início do século XX, hoje o que se vê é muito abandono, drogas e prostituição.

De olho nas Olimpíadas de 2016 e no crash em andamento na cidade, que não tem mais para onde crescer (é iminente a explosão da bolha imobiliária nas bandas de lá), o Rio está revitalizando seu lugar de outrora.

Matéria do Estado de S.

Paulo, edição do domingo passado, revelou com detalhes de que forma se dará essa reinserção do cotidiano urbano ao ambiente abandonado.

Os 28 mil moradores que lá residem hoje serão multiplicados, em três anos, para 100 mil.

Muitos outros milhares terão seus locais de trabalho realocados para lá.

Sem mágica, com incentivo.

Nas devidas proporções, também podemos revolucionar por aqui.

Vontade política, eis o motor de arranque.

PS: Priscila Krause é vereadora pelo Democratas e ocupa a liderança da bancada de oposição na Câmara do Recife desde o início deste mandato, em 2009