UMA NOVA ERA Por Jean-Jacques Gaudiot, especial para o Blog de Jamildo Dia 15 de agosto de 1971, o então presidente dos EUA, Richard Nixon, acabava com a convertibilidade do dólar em ouro, dando início ao gradual reforço da moeda americana como padrão monetário internacional.
Dia 2 de agosto de 2011, quase quarenta anos depois, e em cima do prazo como nos mais clássicos cenários hollywoodianos, os Estados Unidos escaparam do calote… porém não do ridículo.
Essa crise, reforçada pelo rebaixamento da nota da dívida americana pelas agências internacionais, mostra que o dólar nunca mais será olhado com a mesma confiança.
O Euro, que se estabeleceu para ser uma alternativa à moeda americana, está enfrentando seus próprios demônios.
Grécia, Itália, Espanha, etc. estão muito endividados.
Pior.
Essas dívidas vêm aumentando e financiam as despesas de funcionamento dos Estados em vez de ir para os investimentos.
Hoje, o ouro voltou a ser um refúgio para os investidores.
Para o Brasil, vejamos, pelo menos, duas conseqüências importantes.
Primeiro, a atividade econômica mundial vai frear, e o preço das commodities, tal como o minério de ferro, vai cair.
De um lado poderá significar uma entrada menor de divisas, porém do outro haverá uma influência positiva, com a queda da tão temida inflação.
Por outro lado, os Estados Unidos e a Europa vão passar vários anos para botar as respectivas casas em ordem, ou seja, restabelecer finanças sólidas, e deverão passar por um processo similar ao que conheceu o Brasil nos anos 70-80 no auge da crise da dívida externa.
E, justamente, hoje, o Brasil, e a China, são países com economias fortes e finanças sólidas.
Nesse mundo que vai procurar novos padrões financeiros, além do dólar e do Euro, não seria o momento desses dois parceiros, juntos, de estabelecer novas normas?
A crise dos países do primeiro mundo é a oportunidade dos emergentes.
Com certeza, nessas semanas, estamos passando por um desses períodos históricos de transição que se vêem uma ou duas vezes na vida. É o momento de sonhar, desenvolver novos conceitos e criar um mundo novo em vez de se deixar dominar pelos outros. É a hora de os governos, principalmente, o Brasil, investir mais em setores importantes como a infraestrutura de transporte.
Estudo recente do economista Claudio Frischtak mostrou que o Brasil investiu pouco mais de meio trilhão de reais em infraestrutura nos últimos dez anos.
Isso representou apenas 2,32% do PIB, abaixo dos 3% necessários somente para evitar a deterioração da estrutura. É o momento dos investimentos serem estimulados, por exemplo, por meio de concessões ao setor privado.
Jean-Jacques Gaudiot é consultor em estratégia internacional