Na Folha Online O ex-ministro Alfredo Nascimento (Transportes) disse nesta terça-feira, em discurso no Senado, que avisou a presidente Dilma Rousseff sobre um “grande salto e descontrole” no Orçamento da pasta no período em que deixou o governo para disputar o governo do Amazonas –entre março de 2010 e janeiro de 2011.

Ao reassumir a pasta no início deste ano, Nascimento disse que encontrou um ministério “diferente do que deixou”.

Nesse período, o atual ministro Paulo Sérgio Passos ocupou interinamente o comando do ministério por ser o secretário-executivo da pasta. “O Ministério dos Transportes já era uma das pastas com o maior volume de investimentos no PAC e para o período aberto em 2011 registrava um aumento significativo em todos os seus projetos”, disse.

Sem citar o nome de Passos, Nascimento fez acusações indiretas ao ministro ao afirmar que os gastos com o PAC cresceram em R$ 14 milhões enquanto esteve fora do ministério. “Quando saí, junto com a presidenta Dilma, então ministra, o PAC do Ministério dos Transportes significava um pacote de investimentos da ordem de R$ 58 bilhões.

Quando retornei, já estava em R$ 72 bilhões.

Dediquei os primeiros 90 dias de gestão a uma imersão em todos os projetos e ações programadas em andamento.

Em fevereiro, fui o primeiro a perceber a disparada dos gastos previstos e determinei um pente fino para conhecer a origem de tal movimentação”, afirmou.

Além de comunicar Dilma sobre o que chamou de “descontrole” na pasta, Nascimento disse que fez o mesmo relato à ministra Miriam Belchior (Planejamento) –que teria concordado com a revisão dos projetos do PAC. “Dias depois, coloquei o assunto para a presidenta e informei que já começara a trabalhar no ajuste necessário para garantir a viabilidade orçamentária das obras durante sua gestão.

Estabelecemos 15 de julho como prazo final da área rodoviária para tais providências”, afirmou.

O ex-ministro disse que o cenário que encontrou quando reassumiu o ministério mostrava que “a nova administração não teria recursos necessários para iniciar nenhuma nova ação”, limitando-se a pagar e a entregar as obras das gestões anteriores. “Mantida aquela destinação do Orçamento, não teríamos o PAC 2”, afirmou.

DEMISSÃO Nascimento disse que, no dia 24 de junho, Dilma se reuniu com representantes do ministério, do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes) e da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) para discutir concessões rodoviárias.

O ex-ministro disse que não foi convidado para a reunião mesmo tendo sido procurado dias antes pelo chefe de gabinete de Dilma, Giles Azevedo, para sondá-lo se estaria em Brasília para participar da reunião.

O teor do encontro, segundo Nascimento, resultou na reportagem da revista “Veja” que provocou sua saída do governo.

O ex-ministro disse que integrantes do governo “vazaram” seu conteúdo para expor Dilma e sua gestão –embora ela já estivesse apurando as irregularidades nos gastos da pasta. “Se eu sou o titular da pasta, se estou conduzindo essa investigação com a parceria do governo, não vai se fazer reunião sem a presença do ministro titular.

Não pensei duas vezes.

Fiz a minha carta [DE DEMISSÃO]e mandei entregar para a presidente”, afirmou.

Segundo ele, a presidente não aceitou o pedido de demissão, no sábado, 2 de julho. “Na conversa que tive por telefone com a presidente Dilma, avaliamos que o governo deveria dar resposta à sociedade.

Mas ela não aceitou meu pedido de demissão, e pediu que eu avaliasse os fatos”.

Nascimento afirmou que foi decidida a criação de uma comissão de sindicância liderada por ele.

O ministro acabou entregando o cargo no dia 6 de julho, após a reportagem do jornal “O Globo” sobre a empresa de seu filho.