Por Edilson Silva Domingo é dia de mais uma marcha em Recife: a marcha pela salvação do Recife Antigo.
A iniciativa é de um grupo de jovens – em sua maioria mulheres, das periferias da cidade.
Conheceram-se nas redes sociais, não têm partido, não são de nenhuma associação, de nenhum grupo organizado em particular.
Em comum o fato de serem jovens, saudáveis, e a preocupação com o bairro que gostam de freqüentar como espaço de lazer, mas que está sendo tomado pelo tráfico e por assaltos, dos quais já foram vítimas.
A página do evento na rede social Facebook já conta com mais de 13 mil pessoas confirmando presença.
Percebe-se que a população da cidade tem um sentimento de pertencimento com aquele espaço.
O Recife Antigo é uma espécie de praia, onde cabem todas as classes, todas as tribos, todas as idades.
Os jovens que tiveram a idéia e foram à luta estão de parabéns.
Quem não está de parabéns, muito pelo contrário, é o poder público.
O tráfico e a violência criminosa que graçam ali são as faces mais cruéis das conseqüências do abandono do bairro.
A ante-sala desta situação é a aparência de ruína em grande parte do bairro, os calçamentos irregulares, a escuridão, o desplanejamento irresponsável na ocupação do espaço pelo comércio informal (que mesmo na informalidade pode e deve ser disciplinado), a falta de fiscalização e controle no uso de carros particulares com equipamentos de som que mais parecem trios elétricos. É terra de ninguém!
A impressão que se tem é que o poder público, leia-se a prefeitura e mais especificamente o prefeito João da Costa, estão deixando o “diabo” tomar conta daquele território para depois vir com a solução final: a faxina geral.
Essas faxinas geralmente têm o objetivo de privatizar espaços, de entregar a algum grupo privado “competente” a manutenção da ordem.
Quem não se lembra dos kombeiros?
Ao invés de disciplinar a atividade e garantir uma mínima concorrência organizada e segura com as empresas de ônibus, deixaram a bandalheira solta até virar quase caso de polícia.
A faxina depois veio em favor das empresas de ônibus, com o apoio da população que não agüentava mais a bagunça.
Não podemos permitir que o mesmo aconteça com o Recife Antigo.
A “grande idéia” do secretário de turismo do Recife é reativar o “Dançando na rua”.
A idéia é boa e deve ser saudada como bem vinda, mas ao mesmo tempo a idéia não é dele e só mostra que a atual gestão da prefeitura está na contra-mão do futuro.
Porque acabaram com este evento?
Além de não ter acabado com ele a prefeitura deveria ter já encaminhado um conjunto de ações simples para proteger a área.
Mas não, a prefeitura, até aqui, parece só pensar em mega-empreendimentos, em mega-eventos, curiosamente somente ações que envolvem muitos recursos e onde alguns empresários podem lucrar à vontade.
Já vi gente propor transformar a área numa espécie de Shopping Center horizontal.
A garotada que está organizando a Marcha pela Salvação do Recife Antigo está apresentando uma plataforma que deverá matar o poder público de vergonha, tamanha a simplicidade e efetividade das medidas: postos policiais permanentes e inteligência policial para acabar com o tráfico e os assaltos; iluminação e cuidados básicos com calçadas e a aparência do bairro; programação cultural permanente no bairro incentivando a produção local; legislação municipal para disciplinar a difusão sonora no bairro.
A idéia é consolidar o bairro não só como um pólo de eventos, onde a população é tratada única e exclusivamente como consumidora, nem tão pouco tratar o bairro como uma praça para “inglês ver”, mas sim como um espaço cotidiano e plural de lazer e entretenimento para a população do Recife. É por essas e outras que não abro mão da minha convicção de que uma verdadeira democracia é aquela em que a participação popular é uma constante.
A democracia do futuro é aquela em que representantes e representados possuem espaços permanentes de diálogo e de decisão.
Todos ao Recife Antigo!
Domingo, 15h30, na Torre Malakof.
Presidente do PSOL-PE WWW.twitter.com/EdilsonPSOL WWW.edilsonpsol.blogspot.com