A importância do político e do homem Juscelino Kubitschek – da saga e da construção de Brasília, o Presidente da República desenvolvimentista obrigado pelo regime militar brasileiro (1964-1985) a prestar depoimentos “sem pé nem cabeça” das 7 da manhã às 7 da noite, por dois meses – é o tema maior do livro “JK – A coragem da ambição”, que o empresário Mario Garnero lançará dia 3 de agosto próximo, das 11h30 a 12h40, com palestra, seguida de entrevista, na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo.
Garnero escreve que o livro não tem como objetivo ser uma biografia. “Não tem pretensão comercial, nem de status”, mas pretende dar uma dimensão humana e atual ao trabalho do Juscelino.
Hoje um dos mais destacados empresários brasileiros, o autor conheceu o ex-presidente Juscelino Kubitschek, quando presidia, na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o Centro Acadêmico 22 de Agosto e o convidou para uma palestra.
Juscelino estava em campanha para as eleições presidenciais de 1965, que seriam abortadas pelo regime militar, então sob o comando de Humberto de Alencar Castelo Branco.. “Permanecemos ao lado do Juscelino até o dia de sua cassação.
Naquela época, eu me lembro que saía de casa e dizia para o meu pai: não sei se vou voltar.
Muitas vezes cheguei a sair com revólver na cintura”, recorda Fernando Menezes, ex-diretor do Unibanco (hoje integrado ao Itaú), ao escrever sobre o autor de “JK – A coragem da ambição”, que tem o hotsite www.jkacoragemdaambicao.com.br. “Nós cuidávamos da organização das vindas de Juscelino a São Paulo.
Não foi nada fácil, porque contávamos com a oposição dos “donos” do partido (PSD), principalmente do Auro Moura Andrade” (que foi presidente do Senado), comenta Menezes.
Garnero destaca, no livro, que Juscelino foi um grande amigo e mentor. “Era um homem de muitas virtudes, correto e justo.
Sabia analisar os grandes temas de interesse do Brasil.
Foi capaz de transformar sonhos em realidade.
Iniciou um projeto de desenvolvimento para o País, do qual colhemos frutos até hoje, 50 anos depois”.
POPULARIDADE E INIMIGO NÚMERO UM Segundo o autor, antes de dia 31 de março de 1964 – quando os militares tiraram do poder João Goulart -, o mineiro Juscelino Kubitschek dispunha de uma popularidade de quase 70% do eleitorado e já era o candidato indicado pelo PSD na corrida presidencial das eleições de 1965.
O segundo colocado era Ademar de Barros (SP), com 18%, e o terceiro era Carlos Lacerda (RJ). “Do lado militar, houve um entendimento de que uma guerra entre os civis estava prestes a acontecer” (depois da queda de Goulart).
Outro ponto citado por Garnero foi a popularidade da candidatura de JK, “a quem os demais candidatos jamais permitiriam que chegasse novamente ao poder pelo processo democrático.
Dessa maneira, estabeleceu-se um único objetivo: a cassação de Juscelino.
Carlos Lacerda defendeu isso claramente, com apoio dos outros candidatos”.
Segundo o autor de “JK – A coragem da ambição”, o que o que os outros candidatos não sabiam é que eles mesmos colocaram uma corda no próprio pescoço.
Juscelino Kubitschek, afirma Garnero, até tentou uma aproximação com Lacerda, no sentido de buscar uma coordenação política, como havia feito em São Paulo com Franco Montoro e outras lideranças, para haver uma união em prol da democracia.. “Depois de duas horas de reunião com Roberto de Abreu Sodré, presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo e depois governador do Estado, coordenador da campanha de (Carlos) Lacerda, fui levá-lo ao aeroporto.
Sodré me disse: “diga ao Juscelino que vamos caminhar para um entendimento”.
No dia seguinte de manhã, nos jornais, havia uma declaração do Carlos Lacerda dizendo que JK era um ladrão e deveria ser cassado.
Ou seja, Sodré, autorizado pelo Lacerda, disse uma coisa, e o Lacerda, à noite, fez outra”. “COMO CIVIS,FALHAMOS” Garnero estava na casa de JK no dia da cassação. “O processo de apoio civil a ele ruiu imediatamente.
Eu não imaginava que pudesse haver a ruptura do sistema democrático, até então muito bem estabelecido durante o governo de Juscelino.
Ele passou dois meses fazendo depoimentos sem pé nem cabeça.
Juscelino chegava às 7 da manhã e ficava em pé até as 7 da noite no quartel, com um sargento perguntando seu nome, pedindo para ele se identificar”.
Na opinião de Garnero, “como civis, nós devemos assumir que falhamos”, criando todas as condições para Golpe de 64 e para a ditadura. “Juscelino sofreu muito após este episódio.
JK, que poucos meses antes era o paradigma da democracia e do diálogo foi transformado em inimigo numero 1 da nação..
Ora, quando alguém, mesmo que sem motivos racionais, ou comprovações, recebe este título, até os cachorros mortos passam a uivar”.
CONVERSA FINAL Mario Garnero relatou a última conversa com o ex-presidente, no dia de sua morte, 22 de agosto de 1976.
Garnero almoçou com JK, no restaurante “La Tambouille”, no dia da morte dele, acompanhado pelo Adolpho Bloch (Revista Manchete) e pelo jornalista Mauro Ribeiro, então seu assessor.
Ao final do encontro, quase beirando o anoitecer, insistiu e insistiu com Juscelino para que dormisse na fazenda dele em Campinas.
Prometeu-lhe que, no dia seguinte, ambos seguiriam para Brasília, num jatinho já fretado.
O ex-presidente, porém, foi de carro para o Rio de Janeiro, dizendo que tinha um encontro inadiável.
Dez horas da noite do mesmo dia, um ex-diretor da Volkswagen ligou para Garnero, comentando o desastre e a morte de Juscelino Kubitschek. “O avião que me levaria para Brasília, levou-me ao Rio para um dos momentos mais tristes da minha vida”, escreve.
O livro reproduz o artigo “JK: O começo do fim”, do escritor Carlos Heitor Cony, publicado em maio deste ano.
Garnero antecipou o texto “JK – A Coragem da Ambição” para Cony. “Li na telinha o livro que você me mandou.
Parabéns.
Bem escrito e bem documentado”, comenta.