Por Renato Lima O jornalista americano Henry Hazlitt tinha uma capacidade ímpar de traduzir conceitos econômicos complexos em poucas palavras.
O seu livro mais famoso, “Economia numa única lição” é um curioso trabalho de desmascarar mentiras econômicas e péssimas políticas públicas disfarçadas de boas intenções.
A equipe de João da Costa (PT) precisa ler urgentemente este livro para tentar errar menos, diminuir o desmantelo que fazem na cidade, como a mais recente mudança no trânsito da Agamenon.
O livro de Hazlitt é dividido em duas partes, a primeira com cinco páginas (“A lição”) e o restante, cerca de 200, com aplicações da lição.
E qual é a lição pregada por Henry Hazlitt?
A de que “a arte da economia consiste em considerar não só os efeitos imediatos de qualquer política, mas também os mais remotos; está em descobrir as consequências dessa política não somente para um único grupo, mas para todos eles.” Agora, na Avenida Agamenon Magalhães, estão proibidos os giros à esquerda e vários acessos laterais, que permitiam entrar ou sair de pistas locais.
Lê-se no JC o óbvio ocorrido no dia seguinte ao primeiro de trânsito intenso: “Pista principal fica livre e a local engarrafada na Agamenon”.
A presidente da CTTU, Maria de Pompéia afirma que apesar das retenções nas pistas locais “alcançamos nosso objetivo que era dar fluidez à pista principal da Agamenon”.
Senhora Maria de Pompéia, a leitura das cinco primeiras páginas do livro de Hazlitt é bastante recomendável antes de fazer qualquer avaliação de política pública.
Esta deve ser feita levando em conta o tempo médio de deslocamento em toda a via e as rota paralelas afetadas pela mudança.
Por vezes, mudanças de tráfego podem ser bem sucedidas: a inversão de trânsito de Boa Viagem é um bom exemplo.
Por outras, uma mudança de engenharia pode piorar o que já era ruim, a exemplo do péssimo projeto da Conde da Boa Vista, que depois de pronto foi remendado, removido linhas de ônibus para dar maior fluidez e hoje se consolida como exemplo de inoperância do que deveria ter vindo para ajudar.
Temo que essa mudança da Agamenon se pareça mais com o projeto Conde da Boa Vista – pelo menos sem os milhões gastos - do que com a mudança de Boa Viagem.
Se a fluidez da via principal é obtida à custa de maior lentidão nas vias locais – vias que inclusive transitam linhas de ônibus – é claro que se criou um novo problema.
Ao diminuir as vias de escoamento e acesso, obriga-se o motorista a trafegar por um caminho maior, engarrafando novas vias, poluindo mais o ar, chegando mais tarde ao destino. É preciso observar a fluidez e a velocidade média da Agamenon como um todo, incluindo a pista local. É ilógico observar vias locais completamente saturadas ao lado de uma pista principal com fluidez (ver foto).
Os vendedores ambulantes já perceberam isso e agora ocupam as vias locais.
O vendedor de bombom colocado no retrovisor do carro é mais inteligente e rápido que os técnicos da CTTU e sua presidente.
Ele já identificou onde está o problema de trânsito, que é a sua oportunidade de ganhar um trocado enquanto os motoristas aguardam no engarrafamento.
Renato Lima é jornalista, mestre em Estudos da América Latina pela Universidade de Illinois e doutorando em ciência política no MIT (EUA).