A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reviu para cima as estimativas de alguns dos principais indicadores da economia brasileira em 2011, prevendo um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,8% e da indústria de 3,2%.
Os dados são do Informe Conjuntural do segundo trimestre, divulgado nesta segunda-feira.
Apesar das expectativas de alta, a CNI advertiu, contudo, para os danos à indústria da crescente valorização cambial.
As previsões anteriores da entidade, relativas ao primeiro trimestre, apontavam um PIB 3,5% e um PIB industrial 2,8% maiores sobre 2010.
O aumento na estimativa do PIB, justifica a CNI, se deve ao seu crescimento além do esperado no primeiro trimestre, quando avançou 1,3% na comparação com o último trimestre de 2010, enquanto calculara 1%.
O Informe Conjuntural destaca, porém, que a expansão do PIB nos três meses iniciais do ano não se repetirá.
Alinha para isso, entre outros fatores, as restrições ao crédito e as elevações da taxa básica de juros promovidas pelo Banco Central, a contenção dos gastos públicos e o aumento da inadimplência.
O consumo das famílias, todavia, manterá o PIB em alta este ano, prevê a CNI.
A manutenção da demanda doméstica, pelo consumo e pelos investimentos, explica, por sua vez, a estimativa do crescimento industrial em 3,2%.
A CNI assinala, todavia, que a indústria de transformação, responsável pelos produtos de maior sofisticação técnica, crescerá apenas 2,6% em 2011, contra 4,6% da indústria extrativa.
Danos elevados Destaca a entidade ser uma situação radicalmente inversa à de 2010, quando a indústria de transformação cresceu 9,7%.
Segundo a CNI, tal inversão é causada principalmente pela valorização cambial, que levou à perda não só de mercados externos, mas de mercado interno, pela forte penetração de produtos importados.
O déficit da indústria de transformação na balança comercial, que foi de US$ 33,5 bilhões em 2010, subirá a mais de US$ 50 bilhões este ano, prevê.
A valorização cambial, superior a 30% nos últimos seis anos e meio, “é impossível de ser absorvida por ganhos de eficiência das empresas”, constata o Informe Conjuntural. “É urgente implementar mecanismos eficazes e potentes para compensar essa perda de competitividade dos produtos brasileiros.
Medidas pontuais serão insuficientes para alterar a atratividade do setor manufatureiro”, alerta a CNI.
Enfatiza que “a perda de importância do setor irá continuar se a configuração competitiva atual permanecer, causando elevados danos à trajetória de crescimento e à estrutura produtiva brasileira”.
O gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, lembra que, ao mesmo tempo em que o câmbio se valoriza, não houve medidas do governo para promover “mudanças sistêmicas” em favor da competitividade, como melhorarias no sistema tributário, na infraestrutura, nos custos da folha de pessoal, na burocracia.
Castelo Branco sublinhou esperar que a nova política industrial, a ser anunciada pelo governo no próximo dia 2 de agosto, contemple decisões efetivas para tornar a indústria mais competitiva. “Há uma grande percepção do governo sobre a perda de competitividade da indústria.
Estamos confiantes, portanto, que a nova política industrial adote medidas eficazes para recuperá-la, como a desoneração dos investimentos e crédito mais acessível para investimentos”, declarou.
Em evidência - O Informe Conjuntural manteve em 4,5% a previsão de crescimento do consumo das famílias, em 6% o índice de inflação e as estimativas da balança comercial, com exportações de US$ 250 bilhões, importações de US$ 230 bilhões e superávit de US$ 20 bilhões.
Reformulou, de 6% no primeiro trimestre para 5,9%, a taxa de desemprego e de 9% para 8,5% as estimativas para o aumento dos investimentos. “ O cenário que estimula a entrada de divisas permanece e pouco deve se alterar até o final do ano”, pontua o estudo, acrescentando que “a economia brasileira deverá manter-se em evidência, atraindo investimentos”.
A CNI prevê ainda uma taxa nominal média de juros de 12,07% , um câmbio médio no ano de R$ 1,59 e um déficit público nominal de 3,20% do PIB.
O superávit público primário deverá atingir 2,70% e a dívida pública líquida ficará em 39,5% do PIB, calcula a entidade.