Por Naira Hofmeister, especial para O GLOBO (opais@oglobo.com.br) O memorial em homenagem ao ex-sargento Manoel Raimundo Soares - protagonista do primeiro caso incontestável de morte por tortura na ditadura, há quase 35 anos - deveria estar exposto em Porto Alegre desde dezembro.
A obra, concluída há oito meses, foi paga pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, que investiu R$ 19.400 para tirar do papel o projeto - único dos 22 encomendados pela SDH ainda não exposto.
Mas a obra da artista Cristina Toniolo Pozzobon - “O Caso das Mãos Amarradas” - está desmontada num depósito em São Bernardo do Campo (SP).
A razão é o decreto 16.811, de outubro de 2010, do prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), que proíbe temporariamente “toda e qualquer alteração no mobiliário urbano”.
Naqueles primeiros anos de ditadura, a tortura ainda não era institucionalizada e os casos de morte eram justificados como suicídio ou reação à prisão.
Mas o corpo do ex-sargento, subcomandante do que viria a ser um foco guerrilheiro no Sul, foi achado boiando no Rio Jacuí, em Porto Alegre, com as mãos amarradas para trás e marcas de tortura.
Mais: as cartas que ele enviava à mulher quando passou pelo presídio da Ilha denunciavam as sevícias a que fora exposto. “Ouvi dizer no Dops que fui o detido mais ’tratado’ até hoje”, registra uma das cartas, transcrita por Elio Gaspari em “A ditadura envergonhada”.
A expectativa é que a instalação ocorra em agosto.
O prefeito garante ser favorável ao memorial: “Se for preciso, alteramos o decreto”.