Do Jornal do Commercio com o Blog de Jamildo Em vez de olhar para trás, projetar o amanhã.
O Atlas de Desenvolvimento Humano da Região Metropolitana, divulgado oficialmente ontem pela Prefeitura do Recife, peca pela defasagem dos dados ao adotar os indicadores censitários do IBGE de 1991 a 2000.
Mas cria uma base cartográfica e uma reestruturação do espaço urbano que permite planejar o crescimento dos 14 municípios do Grande Recife, sem cometer os erros de urbanização do passado.
O estudo fica pronto no momento em que a Região Metropolitana experimenta um processo de expansão habitacional e de industrialização que se concentra em diferentes pontos da RMR.
Com dados estatísticos, imagens de satélite, mapas de sistemas viários, o atlas traz informações detalhadas de cada localidade, tornando-se uma ferramenta para aproximar realidades distintas.
Integrante da equipe técnica que formatou o atlas, o professor da Universidade Federal de Pernambuco Jean Bitoun chama a atenção para três regiões dentro do Grande Recife que exigem uma abordagem mais específica dos dados levantados pelo estudo. “Todas estão em transformação intensa e exigem um planejamento urbanístico que deverá levar em conta questões sociais, econômicas e de meio ambiente”, observa.
Ao norte, ele destaca a região chamada de Grande Aldeia, no município Camaragibe, onde há um forte crescimento do número de condomínios residenciais.
Ao observar os dados da área, ele diz que já existe uma situação de disparidade social que precisa ser considerada.
Dentro do bairro de Aldeia dos Camarás, onde ficam boa parte dos condomínios de luxo, está localizada a comunidade de Vera Cruz, formada por trabalhadores de renda mais baixa.
Os indicadores dão uma ideia dos dois extremos.
Enquanto a renda por chefe de família em Aldeia dos Camarás é de R$ 790, em Vera Cruz esse valor cai para R$ 259. “Como fazer essas duas realidades coexistirem? É preciso pensar uma política de qualidade não só para os novos moradores, com melhor poder aquisitivo, como também para quem já morava no local antes da expansão ou vai prestar serviços nesses residenciais”, explica Jean Bitoun.
Outra área destacada pela coordenadora do atlas, Maria das Graças Paiva, é a Cidade da Copa, que será erguida no município de São Lourenço da Mata, no entorno do estádio a ser construído para sediar jogos da Copa do Mundo, em 2014. “Ali serão feitos investimentos públicos e privados que vão transformar totalmente a paisagem da região.
Mas existe um bairro chamado Penedo, que fica ao lado da área de intervenção, que apresenta baixos indicadores sociais. É necessário planejar espaços de qualidade também para essas populações”, explica.
LITORAL SUL - Na Região Sul da RMR, o complexo de Suape tem atraído grandes investimentos sobretudo para os municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca.
O desafio, segundo os técnicos que participaram da produção do atlas, é que o processo de industrialização não reproduza os mesmos erros que marcaram o crescimento de Jaboatão dos Guararapes, na década de 80. “Jaboatão é o exemplo de tudo o que não poderia ter sido feito.
Lá, a urbanização ocorreu de forma desordenada, sem pensar na qualidade dos espaços públicos”, diz Jean Bitoun.
Ele cita, como equívocos dessa expansão, a invasão dos prédios na faixa litorânea, o aterro de áreas alagadas, a construção de conjuntos habitacionais e loteamentos clandestinos. “O Litoral Sul da Região Metropolitana virou um canteiro de obras.
Onde e como vão morar os milhares de trabalhadores que alimentam esses canteiros?
Cabe aos gestores planejar essa expansão de forma que ela represente apenas um salto quantitativo na arrecadação do PIB. É preciso verificar os efeitos disso na renda per capita dos moradores e nos demais componentes do IDH dessa região”, afirma Maria das Graças Paiva.
Uma das contribuições do atlas foi a definição legal das áreas de bairros de seis municípios onde antes não havia essa delimitação formal.
Apenas três cidades da Região Metropolitana, Recife, Olinda e Paulista, já tinham a divisão legalmente constituída.
Com base nos dados censitários e imagens cartográficas, foram definidos os bairros dos municípios de Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, Abreu e Lima, Igarassu, Itapissuma e Jaboatão dos Guararapes.
Cinco cidades ainda não possuem bairros definidos legalmente: Araçoiaba, Itamaracá, Ipojuca, Moreno e São Lourenço da Mata.
O prefeito do Recife, João da Costa, disse, durante a divulgação do atlas, que o estudo auxilia na discussão de uma nova governança metropolitana. “A gente já discute muito isso na área do transporte e do trânsito. É preciso que se discuta também outras políticas públicas.
A gente tem proposto, por exemplo, na questão da saúde, que se articule uma rede de urgência metropolitana.
Hoje o Recife tem que absorver muitas mulheres que precisam fazer parto, porque muitas cidades da RMR não têm maternidade.
E o atlas permite isso.
Permite que a gente conheça onde os problemas estão localizados e possa intervir nessas localidades”, destacou o prefeito.