O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) foi nesta quarta-feira à tribuna do Senado questionar a participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no processo de fusão do grupo brasileiro Pão de Açúcar com o grupo francês Carrefour – negociação que ainda conta com a participação do também francês Casino, que hoje é o sócio majoritário do Pão de Açúcar.

Jarbas defendeu a convocação dos envolvidos para prestarem esclarecimentos na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal. “A fusão em si já seria questionável, pois causaria uma extrema concentração no setor varejista brasileiro.

Mas o Governo acha isso pouco e permitiu que o BNDES anunciasse que pretende entrar com a bagatela de R$ 4,5 bilhões, num negócio que em nada – nada mesmo – se enquadra na missão da instituição pública, que é financiar projetos que contribuam para o desenvolvimento social, cultural e tecnológico do Brasil”, argumentou Jarbas. “O resumo da história é que a participação do BNDES na fusão do Pão de Açúcar e do Carrefour não é do interesse nacional, nem dos consumidores e muito menos dos fornecedores e dos trabalhadores das duas empresas. É uma típica briga de capitalistas, que o PT tanto condenou no passado e que agora o partido quer financiar com dinheiro público”, ironizou Jarbas Vasconcelos.

Para o senador pernambucano, até agora, ninguém do Governo deu uma explicação, no mínimo razoável, sobre o envolvimento do BNDES numa operação “que caminha para se transformar numa batalha corporativa de grandes ‘barões’ do varejo internacional”.

Na avaliação de Jarbas, a fusão do Pão de Açúcar e do Carrefour levará à redução da concorrência no varejo brasileiro, ao aumento da pressão sobre os fornecedores e também à demissão de trabalhadores nas lojas das atuais redes que hoje funcionam numa mesma área geográfica. “Se o negócio é tão bom como afirmam os dirigentes do Pão de Açúcar, é de se acreditar que o grupo não encontre qualquer dificuldade para conseguir os recursos necessários no setor financeiro privado”, ironizou o senador.

Jarbas Vasconcelos disse que uma eventual união com o Carrefour não colocará o Pão de Açúcar sob o controle brasileiro. “A desnacionalização do grupo já foi feita quando o Casino adquiriu 37% do controle.

Não está mais em discussão.

Quem se junta com parceiro maior ganha patrão e não sócio.

O senhor Abilio Diniz deveria saber dessa verdade inquestionável do mundo corporativo”.

No discurso, Jarbas afirmou que os argumentos apresentados pelo empresário e pelo Governo para justificar a presença do BNDES na operação foram e continuam sendo derrubados um por um, como a justificativa de que a fusão permitiria ao Brasil colocar mais produtos no mercado externo. “Na realidade, o Pão de Açúcar é um grande importador.

E a fusão vai aumentar essa característica do grupo.

As importações do Pão de Açúcar pularam de US$ 150 milhões em 2009 para US$ 236 milhões em 2010 – uma alta de 57,36%”, alertou.

Jarbas Vasconcelos ainda alertou para a concentração do mercado num único grupo econômico. “No maior mercado varejista do Brasil, que é o Estado de São Paulo, o novo grupo supermercadista teria o controle sobre 69% das vendas.

Isso teria repercussão em todo o País, pois o mercado paulista representa 30% do mercado nacional.

O senador do PMDB de Pernambuco não vê sentido na participação do BNDES numa briga de corporações privadas. “Há uma máxima que é muito usada na política, mas que vale para qualquer aspecto da vida: é ruim tudo o que tem de se explicar.

Até que ponto é de interesse nacional o BNDES financiar a maior parte do negócio entre o Pão de Açúcar e o Carrefour?

Vale a pena o Governo se envolver numa megadisputa corporativa que, me perdoem, a expressão tem tudo para ‘feder’ – tanto que os grupos contrataram dois dos principais advogados criminalistas do Brasil?” Jarbas defendeu a proposta dos senadores Alvaro Dias (PSDB-PR) e Ricardo Ferraço (PMDB-ES) de solicitar, no âmbito da CAE, audiência pública com os principais personagens da negociação. “Espero que o governo não encare esta convocação como mais um embate com a oposição, pois o que tratamos aqui é do interesse nacional.

Tenho ainda outras dúvidas que poderão ser esclarecidas pela audiência pública: a partir de quando o BNDES passou a fazer parte dessa história?

De que forma se deram as negociações entre o empresário Abilio Diniz e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho?

Até que ponto a Presidente Dilma Rousseff foi mantida informada sobre essas negociações?”